GOSTO DO QUE FAÇO
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Ly Sabas
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O manual do síndico, elaborado pelo SECOVI - SP, dá início às suas instruções com a pergunta: Elegeram-me síndico, e agora? É, e agora? Eu me fiz essa pergunta há uns seis anos quando, inconformada com a precária manutenção de meu condomínio, resolvi arregaçar as mangas e me candidatar. A mola propulsora para essa decisão era a valorização de meu patrimônio antes de tudo. De que adiantava manter meu apartamento lindinho, aconchegante, energizado e alegre, se as áreas comuns do prédio não condiziam com essa imagem. A verdadeira inversão do ditado popular. Nesse caso era por fora pão bolorento, por dentro bela viola. Interessante é que notava a mesma insatisfação em todos, mas nenhum condômino estava disposto a encarar a briga. Ninguém queria vestir a armadura, levantar a espada e sair pra guerra. E olha que seria uma batalha das boas. Embora o prédio seja pequeno, com somente dezesseis apartamentos, sem elevador ou área de lazer, reformá-lo não seria tarefa fácil. Na época o condomínio tinha 17 anos e imaginei que fosse receber de minha antecessora montes de documentos. Qual não foi minha decepção quando me entregou o livro Ata e três envelopes contendo recibos de contas de luz, água e pagamento do funcionário. Perguntei se era só aquilo. E a resposta afirmativa deixou-me confusa. Onde estavam os documentos contábeis ou um simples livro caixa? Bem, melhor nem querer saber. Resolvi pedir que cada condômino elaborasse uma lista de sugestões iniciando pelas prioridades. Só recebi uma. Isso já foi um sinal do que me esperava. Mas já era um início. Eu já tinha feito a minha lista antes da eleição, portanto bastaria comparar e resolver quais eram, realmente, as prioridades. Um fato importante: logo no primeiro dia de minha gestão, o faxineiro, que na época era chamado erroneamente de zelador, pediu as contas. Disse que iria se mudar para longe. De mim, é claro. Sem a ajuda de uma administradora ou escritório de contabilidade tive que aprender, no susto, como fazer a conta de rescisão. Para completar o dia, a chuva boba que caía transformou-se em um temporal e uma cachoeira nasceu entre a cozinha e a área de serviço de um dos apartamentos do último andar. Foi assim meu batismo de fogo e água. Mergulhei de cabeça, providenciei todos os documentos que não existiam, seja lá por que motivo fosse, registrei o novo funcionário, contratei uma contabilidade para cuidar da parte trabalhista e procurei mostrar aos condôminos a importância de participarem ativamente para que todas as decisões tomadas em assembléia fossem cumpridas. Em minha primeira obra, uma simples lixeira para substituir as cestas na calçada, tomei a decisão de aprender desde como se faz um concreto, afinal de contas é meio parecido com uma receita de bolo, até como calcular latas de tintas por metro quadrado visando a tão sonhada reforma. Descobri que existia um mito de que todas as obras precisavam ser feitas duas vezes para que ficassem a contendo. Matei a pau, o tal do mito. Passaram a dizer que tenho sorte, não conseguem enxergar, ou não querem dar o braço a torcer, que é tudo uma questão de vontade de fazer bem feito e acertar. Durante a obra que mudou a cara de nosso prédio fiz outra descoberta, essa muito importante para o meu ego: tenho talento para a coisa. Gosto muito do que faço e tenho consciência de que os louros não são só meus. Há poucos meses consegui, com ajuda de livros técnicos e de todos os santos do céu, elaborar e registrar a adequação de nossa convenção ao novo código civil. E com isso minha meta está quase sendo atingida. Falta muito pouco. Tão pouco que já ando, talvez inconscientemente, pensando em outra lista! |