ESMERALDA
Luciana Pareja Norbiato
 
 

Ela, mocinha que era, entrava pela primeira vez em um cassino, recém-maioridade. Exultava. O que era a sedução do dinheiro correndo por todas as mesas em forma de fichas coloridas?! Tilintar, tilintar, tilintar.

Tentou primeiro os dados. Ganhou um pouco, perdeu outro pouco, porque parcimoniosa. Depois, os caça-níqueis. Iria à roleta? Um frêmito de medo misturado à excitação da aposta, do risco. Ela, novinha, se sentia repentinamente mulher.

Bob já perdera a conta de quantas rodadas havia perdido na roleta, sempre na esperança de que a próxima fosse a fatal, a sua, aquela em que recompensaria todas as perdas até então. Para acompanhar a derrocada financeira, a derrocada etílica até não lhe caía mal, conferia-lhe um charme extra. Trinta e quatro anos, algumas rugas para mostrar sua vivência e um tipo beeeem interessante... Gato.

Ao chegar às mesas da roleta, Esmeralda escolheu aquela em que um cara já meio bêbado tentava em vão contornar sucessivas perdas. Gato. Vestida para matar, com toda a juventude estourando por um decote perfeito, a curva dos seios em evidência sem mostrar muito, o sobe-e-desce de seu ofegante desejo. Sorte, sexo. Nunca se sentira assim, voluptuosa. Ela o quis assim que pôs os olhos sobre os seus, verdes como a pedra que lhe dava o nome. In-crí-vel, ele pensou. "Aquela coisinha está me olhando. Com ela, eu iria até o inferno."

Próxima rodada, o olho no olho incessava. Ela, apostando timidamente, assim como não tinha coragem de se insinuar claramente para ele. Mas a moça tinha jeito pro soslaio no olhar, pra malícia inocente, que com ela nascera. Talento próprio. Não precisava de esforço para seduzir. Ele já estava na dela. Um frisson subindo pelas coxas. Era a certeza da tepidez do olhar dele em sua pele.

Cruzou a mesa para apostar no ímpar, bem onde ela estava. Ao colocar as fichas, seu braço roçou a cintura de Esmeralda. Tremor, suor leve, ele virou-se para ela, olhou-a nos olhos. "Se eu ganhar, você foge comigo sem olhar para trás. Tem uma bela grana nessa casa, é só acertar." Cinqüenta por cento de chance, boa probabilidade.

Ele precisava de sorte, ela tinha talento de sobra para o resto. O crupiê girou o destino, a bolinha rodou, rodou e... caiu no par.

O rosto desmontado, uma sensação de derrota em proporções homéricas. Quase não levantou a cabeça para olhar o rosto da moça. Que subitamente sentiu-se segura. O que era ganhar ou perder? Qual a diferença de ter ou não aquele dinheiro todo, escoando para o ralo, se tudo em que ela pensava agora era naquele estranho a julgá-la além de seu alcance? Levantou-lhe o queixo com o indicador, sentiu-lhe a barba por fazer, arrepio. Ele parecia não acreditar.

"Leve-me assim mesmo." Ele não ousou desobedecer, mal contendo a onda de excitação vinda em espasmos. Apertou-a contra o corpo, sem beijá-la, no entanto. Não na frente daqueles estranhos, não sem fazer do que viria a seguir um ritual. Que perdesse mil vezes na roleta, se a recompensa fosse ela. Como era mesmo o ditado sobre jogo e amor?

Ao descobrir seu nome, a caminho de onde quer que fossem no carro conversível, ele sorriu. Preciosa.

 
 

fale com a autora