CELULITE, SAI DESSE CORPO
QUE NÃO TE PERTENCE! |
Leila de Barros
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Nasci com sorte e um belo par de pernas e peitos! Não sou loira legítima, mas afinal, para que servem as tinturas? Na época em que conheci aquele saxofonista eu estava meio fora do peso, mas jurei que naquele verão iria malhar mais que atleta de "maradona". Está certo, eu olhava de perto e via umas celulites que decidi que seriam extintas. Não há nada que não possa ser consertado em uma boa clínica de estética, pensei. O que eu queria é fazer de um tudo para conquistar meu vizinho que tocava saxofone e tinha um Audi cinza prata. Sempre detestei estudar. Colava muito das minhas amigas estudiosas, tão sem graças de dar dó. Meu pai sempre dizia que mulher que muito estuda, não casa! Nas entrevista de emprego me perguntavam quais talentos eu tinha. Sei lá, eu dizia. Gostava de ir a bons restaurantes, de carros vermelhos, de organizar festas e de comprar vestidos. As moças das agências arregalavam tanto os olhos, que eu ficava preocupada. Não sou dessas que fica fazendo gênero. Vou logo dizendo o que eu acho. Mas, nessa questão de sorte eu sempre estive com tudo! Fui novamente confiante em minha estrela e parti com tudo para cima do saxofonista. Erótico esse instrumento, não? Só via mulheres bonitas entrando e saindo da casa dele. Todas magras, sem barriga, dava até raiva. E eu não posso nem olhar para uma fatia de pizza que posso virar musa de Botticelli. Por que tive que nascer assim, cheinha? Decidi naquele dia mesmo ir à clínica começar o tratamento. Depois iria conhecer o novo vizinho. Um belo dia, bati na porta dele e ele surgiu magnifíco com um sorriso de Deus grego. Um cinquentão bem apanhado. Nos apresentamos, conversamos e não demorou muito ficamos amigos. Eu ia ficando cada vez mais magra, com a malhação e estava combatendo as celulites com armas poderosas! Mas ele não parecia mais entusiasmado comigo. Como sou direta ao assunto, perguntei logo o que havia de errado comigo. - Nada! Ele disse e continuou: "Sabe, Thaísa, eu adoro mulheres cheinhas. As mais cheinhas são mais interessantes, mais alegres, estão de bem com a vida, não são neuróticas e têm fome de vida! Além do mais, gosto muito de ler, de comentar sobre filmes e percebi que você se entedia com esses meus assuntos." Fiquei muito desapontada, mas dissimulei e fui embora um pouco depois dessa conversa. Estou aqui agora, arrancando todos os trevos de quatro folhas do meu jardim. Fico olhando o vizinho conversar com aquela mulher toda cheinha e de óculos. Como ele fica babando por ela! Que sorte ela tem! |