NA TABERNA
Francine Ramos
 
 

Chovia e ventava. Um ar quente envolvendo os poucos freqüentadores daquele bar sórdido. Pedro não sabia sobre o tempo que permanecia ali, pois o álcool o entorpecia brutalmente; e mais o cigarro que prendia seus pulmões o proibindo de sentir o cheiro do café prepara pelo Senhor Robins.

Bar diferente: onde as pessoas se sentiam livres e ao mesmo tempo acolhidas pelo cheiro do café gratuito que trazia lembranças do passado, da família e do lar.

Pedro encostado no canto do bar, na mesa mais velha e suja onde vários ratos passavam por ali; e lá fora através da pequena janela embaçada era possível ver o vento levar a chuva para um lado e para o outro, como uma dança balançando os postes frágeis perto do quiosque da praça central. Uma vez ou outra alguém fugia da chuva, enquanto Pedro quase imóvel não piscava os olhos nem mesmo quando a fumaça do cigarro de palha atingia sua visão.

E assim as horas e a chuva passaram juntamente com o cheiro do café e quando Pedro se deu conta seus olhos já não estavam tão confusos. E os poucos freqüentadores atentos ao pocker entre um wisky barato e outro não pensavam em sair dali.

Coitado do Senhor Robins encostado no balcão sonolento assustando-se a toda hora que um cliente gritava "mais uma dose!". E lá ia Senhor Robins com todo o seu peso quase cambaleando até a cozinha. Pedro sorriu pelo desânimo do Sr. Robins, levantou decidido a jogar pocker e no meio do caminho ganhou um beijo de Amelie que veio em sua direção com um olhar doce, sensual, enlaçando seu pescoço em seus braços finos e tocando-lhe a boca delicadamente. Um sussurro, um sorriso e ela simplesmente subiu as escadas da taberna querendo, talvez, que Pedro a acompanhasse, mas ele preferiu a sedução do pocker.

Sentou a mesa sem aceitar bebida alguma, atentou-se ao seu parceiro e admirou seus adversários com seu olhar pacífico, compenetrado, mas sem demonstrar muita aptidão, que na verdade não tinha. Afinal Pedro nunca foi um jogador, mas ele entendia de fina educação nesses momentos de ganhar e perder dinheiro.

E assim entre uma partida e outra seu bolso afinando com o dinheiro que saia e saia entre a recordação do que Amelie faria com ele lá em cima em seu quarto escuro e quente. E pensando nela a toda hora trocava seu dinheiro graúdo por notas pequenas. Perdendo, perdendo e entristecendo por sua patifaria de trocar os beijos de Amelie por aquele jogo inútil e partidário de sua virilidade, enquanto poderia muito bem testar essa mesma virilidade no quarto acima.

Bobagem! Gritou sem ninguém entender, analisando até perder o último centavo sua incrível capacidade de jogar a sorte fora, e compreendendo que não eram as notas perdidas que o preocupavam e sim Amelie prostituída por sua medonha leveza de trocar talento e sorte por coisas tão vãs.

 
 

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