PERGUNTAS, RESPOSTAS E CONCLUSÕES
Carvalho de Azevedo
 
 

Nunca entendi direito a diferença entre sorte e talento.

Escrevia versos, poesias, poemas, contos e alguém dizia : falta-lhe talento.

Outras vezes, uma ou outra pessoa até mostrava-se interessada pelo escrito, mas dizia : falta-lhe sorte. Nunca achei que fosse um azarado, mas seria o azar o antônimo da sorte?

Será que não ter sorte significa necessariamente ter azar? Entendo que não!

Será que se eu tivesse talento a sorte viria no mesmo kit? Não sei.

Quem me vê hoje e me viu ontem, diz que eu tenho muita sorte. Estudei, casei, comprei casa , tive uma filha, plantei uma árvore, escrevi um conto em uma antologia, me aposentei. É, me aposentei por tempo de serviço. Tive muita sorte.

Quem me viu menino aos doze ou treze anos dizia sempre que eu seria alto como meu avô materno, que tinha estatura além de dois metros. Resultado? Nunca mais cresci, não indo além do metro e sessenta e sete.

Quem me viu menino, dizia que eu era muito inteligente e que seria bem-sucedido na vida, pois, aos dezoito anos já estava no curso técnico de contabilidade. Aos vinte era 3º Sargento do Exército e meu comandante dizia que eu não tinha sorte, tinha talento.

Um dia, esse mesmo comandante, aconselhou-me a fazer carreira na vida civil, pois, havia dado azar na minha QMG/QMP (Qualificação Militar). Enveredei para a vida civil, tendo ao meu dispor todo um promissor horizonte à minha espera. Fiz carreira rápida como economista, numa época em que se falava no milagre brasileiro. Trabalhei na indústria mas deixei-me seduzir pelos salários generosos de uma empresa jornalística familiar. Dei azar. A família transformou o próspero conglomerado em pequenos feudos e acabou com a empresa.

Tive sorte. Conheci alguém que apostando no meu talento, iniciou-me na advocacia, curso que fiz já com mais de quarenta anos, ao entender que a empresa me faria a bola da vez a qualquer momento e eu, quarentão, não teria muita chance de sobreviver dependendo ainda de emprego, de vínculo empregatício.

Amadurecido pelas agruras da vida, comecei a investigar a compatibilidade entre o talento, a sorte e o caráter das pessoas. Cheguei à conclusão que são faculdades absolutamente autônomas e não necessariamente coexistem e são compatíveis. Talento e Sorte são apenas detalhes de uma vida.

 
 

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