ALLEGRO MISANTROPO XIII
Sérgio Galli
 

Inverno da desesperança/primavera de 2005

(Nefertiti, de Miles Davis)

Katrina, Rita, e outros furacões alcunhados com nomes femininos devastam o Hemisfério Norte. A última investida foi na terra do jazz, Nova Orleãs. Já aqui no Hemisfério Sul há os furacões severinos, lulas, zes Dirceu, martaxa, valérios... Vendavais que assolam o planalto central e afetam toda a planície. Mas esse furacão não passa de uma leve brisa comparada à verdadeira devastação feita desde fhc e aprofunda pelo governo lula que é a política econômica. O presidente em seu choramingo afirma e reafirma que a crise não política não afetará a sua (sic) política econômica que vai de "vento em popa"; A economia vai bem para quem, cara-pálida? Só se for para os banqueiros que batem recorde de lucros ano após ano. Para manter o tal superávit primário o governo promove um colossal arrocho salarial, juros estratosféricos, aumento de impostos, privatizar tudo, inclusive a saúde, previdência, educação, enfim, todo o receituário do FMI e do Banco, instrumentos do tesouro norte-americano a serviços das grandes corporações.

Com o superávit primário, só no semestre passado, nós, a patuléia, pagamos oitenta bilhões de dólares de juros da dívida. Ou seja, trabalhamos, pagamos impostos para sustentar diretores e acionistas do Citibank e outros. Enquanto isso os investimentos para saneamento básico, saúde, educação são cada vez mais escassos. Os ricos ficam cada vez mais ricos, os pobres, mais pobres. Em tempos marqueteiros, o governo dá a sua esmola, chama de programas sociais (fome zero, bolsa-família, bolsa isso bolsa aquilo, e as empresas inventam mentiras para enganar trouxa, tipo responsabilidade social na tentativa de apagar a má consciência.

Esse torno já matou inclusive a Velhinha de Taubaté e, pelo visto, vai mesmo acabar em "pizza". Vivemos uma democracia de fancaria, afinal, como já bem disse o escritor português José Saramago, não elegemos o presidente do Citibank, da Shell, da GM, da AOL Time Warner, etc. que na verdade são os verdadeiros donos do poder, do mundo. O senhores do universo, da guerra.

Lula, Severino, o PT dizem que há uma conspiração das elites. Que são os verdadeiros favorecidos por essa política econômica? Quem é o presidente do Banco Central? Quem é o vice-presidente? Quem é o ministro da agricultura? O ministro da Fazenda é um preposto do FMI. Cehga de conversa fiada. Chega também dessa história de que o Lula passou fome, era um pobre coitado, como se isso fosse aval para que pudesse cometer crimes (caixa 2 é crime). É preciso ter nervos de aço para aturar esse desdém, essa empáfia, esse furacão de tolices.

Há um adágio que diz que depois da tempestade vem a bonança. Será?

Sugestão de leitura: "Colapso", Jared Diamon, Editora Record, 2005.

 
 

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