CRÔNICA NÚMERO 10
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Osvaldo Pastorelli
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Perdoe-me se na urdidura do tempo, teço o meu tempo intensificando o momento mágico de estar junto de ti. Perdoe-me o meu atrevimento de viver na derradeira esperança em tecer meu modo de vida. Perdoe-me o devasso corpo a devanear em planos secundários não concretizados num labirinto de abstrações. Perdoe-me se não desisto e percebo a hora disto ou daquilo que me arrasta compulsoriamente. Perdoe-me se vivo me equilibrando desde o amanhecer até o anoitecer. Perdoe-me se caio e se ligeiro me levanto sem me preocupar com o instante. Perdoe-me o eterno medo de ser exilado na sarjeta como pedinte da fome. Perdoe-me o meu corpo situado no norte em busca do seu alojado no oeste ampliando os horizontes das possibilidades. Perdoe-me o espaço que ocupo retirando da terra as ilusões profundas e as aflições que perdura. Perdoe-me o aroma do regato manso onde deito meu corpo sempre a espera do teu. Perdoe-me o olhar no infinito das lembranças passadas sem distinguir o que me alcança. Perdoe-me o meu nervo de aço ao saber que você está com outro esquecendo de mim. E finalmente, me perdoe a condição de perdoar a minha condenação de viver somente por viver. Tudo isso é fato a me enlouquecer e a me encerrar na prisão da vida sem você. Esse é o meu maior pecado: querer você. (Crônica inspirada no poema "Teço Versos", de Fred Matos). |