Ei
amigo, me passa uma garrafa,
qualquer coisa serve, desde que seja forte
e que me baste um gole.
Quero me embriagar, cair.
Se possível morta. Porque?
Ah, não finja não saber.
Sim é isso, aquele calhorda.
Que apesar de não me querer (aliás nunca me quis)
todo mês de setembro reaparece.
Acho que é a primavera, tem sido assim, ano após ano.
Lá se vão quantos? 10? Não, são 20 ou 30,
que importa?
Chega, me chama de querida, de delícia,
diz que me quer para toda vida!
Até parece verdade. O pior amigo,
e ele bem sabe, que tudo que não tenho
são nervos de aço.
Como sempre esquecerei as promessas, as rezas
e os despachos que fiz, para ter juízo, fugir e
ficar longe do sorrateiro, mal-caráter.
Porém irresistível, infeliz.
Amigo, é hoje o dia, eu sei, pressenti.
Assim, me ajude e não me deixe cair em tentação.
Passa uma garrafa e um copo, qualquer coisa serve,
desde que seja forte e que baste um gole.
Quero me embriagar, cair.
E assim que ele perguntar por mim,
diga apenas que morri . Ah! Sim!
Faça também, só um pequeno favor.
Não esqueça de informar:
- que a chave... está no lugar de sempre.
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