HILDA
Beto Muniz
 
 

Estava chovendo quando o caminhão chegou trazendo a mudança daqueles polacos. Se não eram polacos que fossem dinamarqueses, ou noruegueses, ou então de qualquer outra Escandinávia onde todo mundo tinha olhos azuis e cabelos cor de fogo.

Hilda era a moça da família, um par de olho azulão que ela me olhando assim de cima pra baixo - que ela era maior que eu, até chegava a confundir com o céu sem nuvens. O corpo dela era cheio de ferrugem quando chegou pra morar na região, na fazenda em frente ao nosso sítio. Passado uns tempos sua pele foi tostando, perdendo o brancor, ficando queimada e a ferrugem terminou parecida mesmo foi com paçoca que papai fazia. Amendoim com rapadura. O pai pegava o amendoim e dizia 'achega' e todo mundo chegava para tirar casca e botar no lixo. Aí era vez de levar os amendoins cascados pro forno. Torrava pouco, só por amor de tirar a pele vermelha deixando os caroços limpos num tacho. Então pegava o moedor socava amendoim dentro e ia caindo óleo e tudo numa panela. Mas não moia muito fininho não! Moia médio, mais triturado fino que moído grosso. Acabava a moagem pra dentro da panela e assim que o tacho esvaziava ele pegava duas rapaduras de engenho, feitas no sítio da Fióta, uma negra que ficava mais preta ainda quando estava emparelhada com a mãe da Hilda, e as duas juntas eram uma coisa bonita de ser vista, mostrava as diversidades da natureza e me fazia pensar que cada uma tinha sido criada para sustentar vida numa parte diferente do mundo. A mãe da Hilda atropelava as palavras pra dizer que lá de onde ela vinha tinha muito frio, muita umidade! Eu guardava pra mim se não era por isso que a família inteira tinha enferrujado. A Fióta não, ela tinha uma fala mansa, arrastada, atiçava preguiça na gente ouvir ela contando das terras de suas origens, que ficavam lá pras bandas de onde o calorão só não queimava a alma. No final deu que as duas, cada uma do seu jeito e com sua história, não ficaram onde tinham sido feitas pra povoar e vieram foi povoar o Triângulo Mineiro, que tinha um tantão de sol pra chamuscar até pedaço da alma e um tiquinho de frio pra tiritar os dentes, ia da época do ano. As rapaduras compradas, ou trocadas por algum frango, eram colocadas em cima da mesa feita de tora, que mesa de trabalhos na cozinha não podia ser fraca não, e então o pai pegava o facão colocava meio de chanfra assim nas quinas da rapadura, uma de cada vez, e batia com o cotoco de caibro. O facão entrava na rapadura tirando lascas fininhas, que iam quebrando parecendo tijolo ralado. Depois de muito cotoco batido no facão chanfrado ficava uma monteira de rapadura lascadas dentro do tacho e o pai deixava a gente comer umas iscas. Não muito que era pra não faltar doce na paçoca, mas deixava. Depois botava o tacho no fogão de lenha e as raspas iam se derretendo todinhas, virando um melaço que a gente nem podia chegar perto. O pai danava, dizia 'arreda' e a gente arredava e ficava de longe lambendo os beiços de vontade de queimar a língua naquele doçal todo. Ele pegava a panela de amendoim triturado fino, despejava tudo no meio do melaço e ia misturamexendo até virar uma pasta cheirosa, pedindo pra gente meter o dedo ali e experimentar o gosto. A gente só não metia o dedo porque o pai dizia 'arreda' toda hora e ninguém era besta de não obedecer. Arredava todo mundo deixando espaço pro pai tirar o tacho segurando com pano nas alças pra não queimar as mãos. A mesa de tora rangia com o peso do tacho borbulhando docegrude, mas agüentava! Nisso o pai já tinha preparado, na outra banda da mesa, a pedra de granito arrodeada dos lados com ripas pregadas uma nas outras formando um quadrado. Ele despejava o doçal mole em riba da pedra e ia espalharrumando pra ficar retinho. A gente ficava raspando o tacho com pedaços de taboca, tirando restinhos de doce quente e botando pra derreter na língua. Depois que terminava de misturarrumar o pai cobria com um pano saca de farinha branquinho, molhado, pra ajudar a esfriar e endurecer a paçoca sem escapar cheiro, então dizia 'arreda' mais uma vez e se ia pra lavar o tacho e a colher de pau. A pedra coberta com pano de saca ficava bom tempo ali esfriadurecendo. Depois vinha o pai com o facão, tirava a saca branca de cima e começava a cortar o endurecido em quadrados miúdos. Mais meio tempinho de espera e todo mundo já podia alimentar a solitária, e era só gente mordendo paçoca igualzinha da cor que a pele enferrujada da Hilda ficou depois de queimar no sol de Minas.

Eu ficava olhando aqueles ombros da cor de paçoca do pai, e dava uma vontade de botar a língua ali e experimentar o gosto. Não dava vontade de morder não, só mesmo de botar a língua e sentir se era doce. Um dia falei pra Hilda que assim, do pescoço passando pelo ombro inteirinho até a curva do braço dela, tinha cor de paçoca do pai e que eu ficava com vontade de botar a língua ali pra sentir o gosto. A Sueca ficou me olhando com os dois olhos azuis muito abertos, tentando compreender exatamente o que eu estava dizendo. Eu era moleque ainda mas já bolinava com minhas intimidades, também já tinha esse jeito de controlar os nervos e dizer as coisas que estou pensando escondendo as malícias lá no fundo, bem detrás dos olhos, que as mulheres ficam olhando dentro dos meus olhos e só enxergam sinceridade mesmo, que é a única coisa que existe pra ser vista! Então Hilda olhou lá dentro dos meus olhos e viu que eu estava mesmo só com vontade de experimentar o gosto do ombro cor de paçoca do pai. Daí que ela deve ter ficado com vontade de deixar eu experimentar e me levou pra dentro do paiol, arredou a alça da blusa e ofereceu aquela paçoqueira toda que ia do pescoço até a dobra do ombro. Eu botei a língua lá e não tinha gosto de paçoca do pai não, mas tinha um gosto bom, morno que só raspa do tacho na ponta da taboquinha. Eu fiquei botando a língua no ombro dela e segurando os nervos pra não perder o controle das malícias, que perigava elas escaparem de detrás dos olhos pra vir bambear as pernas. A bem da verdade meus joelhos falsearam, tremelicaram um bocadinho quase me traindo pra Hilda... Num é que ela nem botava reparo nas minhas ansiedades? Apagou os olhos azuis e ficou dando uns gemidinhos meio suspirado, meio gemido mesmo e aquilo foi me esquentando por dentro - igual quando eu me bolinava as partes, e fazendo crescer a vontade de ficar com a língua na paçoca dela. Hilda desceu a blusa um pouco mais deixando aparecer a pele que o sol ainda não tinha queimado, e era só ferrugem esparramada inteirinha por onde começava o peito dela, uma coisa bonita de ser ver. Então ela me empurrou a cabeça para que a língualambenta saísse da paçoca e fosse pros lados das ferrugens. Eu levei a língua lá e fui descendo, descendo, sempre com a mão dela obrigando a dar língualambidas mais pra baixo. Daí que apareceu o bico do peito dela, parecia uma amora de vez, quase madurando, vermelhinha, mais pra amorinha encruada que não desenvolve e fica piquitinha no galho. Amorinha boa de botar a boca, nem era azedinha como de costume são as amoras ainda vermelhas. Eu lingualinguando a ferrugem do seio e o vermelho da amorinha nem percebi quando a blusa da Hilda desceu até o umbigo, e ela foi empurrando minha cabeça pra língua ir lingualamber lá onde começava a saia. Eu fui botando a língua ali, assim, arrodeando o umbigo enferrujado dela e ela já estava era levantando a saia, atrapalhando meu lingualinguar. As pernas da Hilda eram torudas, grossas, e inteirinha enferrujadas também, mas nem deu tempo de reparar muito que a moça empurrou minha cabeça e lá foi eu, botando a boca entre as coxas dela. Daí que encontrei as partes femininas que eu nunca tinha visto ainda toda rodeada de pelos, e não era uma coisa bonita de se ver não! Mas não refuguei. Só dei uma estancada por amor de acostumar com a visagem e também me apresentar de boa educação pras intimidades dela, mas Hilda não quis saber de afabilidades, empurrou e mandou, de voz bem mandada, que eu botasse a língua lá dentro. Não sabia onde exatamente tinha que tirar o gosto daquilo com a língua, mas obedeci e fui linguando no meio da ruivagem, lingualinguando as intimidades, lingualambendo as partes todas até que Hilda me espremeu as orelhas entre as duas toras enferrujadas, deu um suspiro tamanho do mundo, arqueou as ancas pra riba levantando junto minha cabeça pressa dentro das coxas, e foi nessa hora que a língua sentiu um sabor de cândida doce entrando pela boca e descendo goela abaixo que só faltou me engasgar. Não era gosto ruim não! Foi gosto do bom. De verdade nem era doce, mas achei melhor que isca da rapadura do pai. Sucedeu que depois desse dia, sempre que a Hilda me pegava campeando sozinho perguntava se eu queria botar língua na paçoca dela. Era eu responder que queria pra escandinava cuidar se não tinha viva alma perto do paiol... Daí me puxava pra lá.

 
 

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