Mais
uma dose no copo já
Enxugado...outro cigarro.
Um novo olhar no velho relógio,
Só para ter certeza que os ponteiros
Quase não se mexeram!
Mais
paciência pede a razão,
Sabe que logo o telefone tocará!
Dia e horário do velório e
Do enterro avisados com antecedência.
Outra
noite sem dormir...
Um consolo vêm-lhe aos lábios
Ressecados: por fim acabou!
Sim acabou, ficaram para trás
Todas as diferenças.
Todas as magoas, todos os medos...
Todas as certezas e todas as razões!
Ficaram
só algumas lembranças...
Do velho que o aborrecia ao telefone
Todas as noites.
Querendo saber como estava e quando pretendia voltar!
Ficaram
só as lembranças...
Do homem que o ensinou a pescar,
A escrever, contar, desenhar e com alguma
Destreza fazia pipas com folhas de seda.
Num
tempo muito passado.
O que não daria, Tobias, para apenas uma vez
Conseguir dizer a verdade como ele o fazia!
Pararia a vida, pararia o relógio naquela hora
Do último encontro ou do último telefonema
Só para dizer...pai, também te amo!
Diminuiria o ritmo! Pararia todas as horas...
Mas
já não pode, mas já não há tempo.
A vida cobra e cobrou-lhe pesado. Caro...
Deu-lhe posses, riquezas, haveres, responsabilidades e
Meios...
....viagens,
amores, pernoites aqui e ali.
Pernoites lá em hotéis caros e finos.
Regados a boas conversas com amigos e colegas.
Mas
não deu-lhe a chance de vê-lo uma última vez...
Não deu-lhe a chance de uma despedida,
Um olhar, um afago, um beijo na mão.
Um pedido de benção.
De ouvir todos aqueles conselhos que não pediu e
Que estava certo não serviriam de nada na tomada de suas decisões.
Saudades?
Muitas...confessa ao reflexo no espelho.
Enquanto assiste ao triste espetáculo das lágrimas
Que precipitam-se como se vontade própria tivessem.
No
silêncio uma prece, no coração
O medo...de que o filho o queira esquecer
Tanto quanto ele tentou esquecer aquele velho.
Na boca uma oração não pela alma do pai...
...mas sim pela sua!
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