TEMPO PERDIDO
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Rita Alves
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Leila era esquisita e conseguia desencorajar qualquer um a ser contra a sua opinião, bastava arregalar seus olhos de onça e pronto. Estava feito. Era capaz de ficar durante horas observando o mesmo objeto ou lendo a mesma página de um livro enquanto pensava na vida. O seu trabalho não exigia muito já que era apenas uma secretária medíocre trancada na sala de um prédio velho com cheiro de mofo. Sua única perspectiva era ser a rainha de alguns idiotas que a vangloriavam por meia dúzia de feitos igualmente insignificantes. Apesar disso, ela conseguia ter alguns poucos e fiéis súditos que fechavam os olhos diante de toda a sua feiúra, afinal, amigos são escolhidos e não impostos e se eles estavam com ela sob chuva ou sol isso significava muito. Leila se gabava o tempo todo e tinha um sorriso irônico no rosto, sua boca tremia de nervosismo por estar viva. Era tão evidente, não cabia em si, ela não cabia em lugar nenhum do planeta e passava horas a contar minutos e os minutos a contar horas. Queria desaparecer sem deixar rastros. Estava exausta, sentia-se grande diante do mundo, mas ao mesmo tempo era pequena diante dos seus sonhos estrelados. Ela falava e ninguém entendia, ela gritava e todos olhavam aturdidos, talvez ela fosse louca ou o mundo estivesse desajustado. Injusto, fora dos eixos. Queria tudo e não tinha nada. Parecia ser dona de si, mas era dona apenas de seus desejos frustrados. Quando um dos empregados do escritório encontrou Leila caída no chão, numa manhã fria, a princípio pensou que ela tinha sido vítima de um assalto e percorreu a sala toda com o olhar assustado. Não demorou muito para perceber que na verdade ela havia tirado a própria vida. Leila, semanas antes de sua morte, comportou-se muito diferente do habitual. Escancarava um sorriso sincero, foi gentil com as pessoas e pediu desculpas para os desafetos. Inspirava tranquilidade, estava feliz. Quem tem um sonho não dança. |