Enquanto,
perdido, no lapso dos dias,
Co'as mãos fugidias folheando canções,
Eu tenho, somente, entre tantos segundos,
Apáticos mundos e vãs sensações.
Insurge
nos becos do quarto onde moro,
O vácuo sonoro do tédio mordaz
E busco enxergar uma luz de sossego,
à qual meu apego descanse com paz!
Porém,
esquecida, nos cantos escuros,
Co'os olhos impuros, a morte pedante,
Perdura e se mostra uma velha decrépita,
Volátil, patética, de atro semblante!
O
que me destrata e desgraça-me a luz,
Prostrado na cruz dos silentes quartetos,
É não ter vontade a fugir deste carma,
Matar-me sem arma, jogado nos guetos!
Baratas,
poemas, garrafas de vinho,
Travando o caminho dos verbos malditos,
Completam a tela maldita dos anos
Os quais mui profanos cessaram meus gritos!
A
tíbia centelha da vela me ofusca
A trágica e brusca corrente do espanto!
Eu quero escrever, mas talento não tenho,
Nem forças mantenho, nem mágoas ou pranto!
Mi'a
dor se resume a um frasco vazio,
Forjado no frio crepitante dos sonhos!
Mi'a vida, uma longa quimera odiosa
Eivada na glosa de versos tristonhos!
Às
vezes intento às janelas livrar-me
Do tétrico mar de miasmas do quarto,
Mas nada percebo feliz ou completo,
Que possa ao concreto sustar-me do enfarto!
Até aspirei à paixão, pois, o amor!
Tão bela é a flor nos cadernos exposta!
Já li alguns livros... jorravam amores,
E nunca os senhores perdiam a aposta!
As
horas paradas, os vagos desejos,
A angústia dos beijos não dados, dormentes,
Convidam à casa macabra dos vícios,
Aos seus precipícios de ofícios dementes:
Um
deles se mostra na farta desgraça
Em que nossa massa se lança aos cadernos,
Buscando na escrita a alforria da dor,
Sem muito pudor aos desígnios supernos.
Joguei-me
nos livros, na inércia dos sonhos,
Bebi os tristonhos langores do vinho,
Prendi-me aos grilhões dum poema malfeito,
Restando em quarto, confuso e sozinho...
Lancei-me
no afago discreto dos versos,
E neles, perversos sorrisos eu vi!
Mas nada mudou, pois inerme às batalhas
Joguei as toalhas, ao som de Satie!
E
quando ao final desta amarga leitura
Eu sinto a soltura dos versos ao lê-los,
Mas dói-me saber que em tão belo esquadro,
Só vejo um quadrado sem mais pesadelos.
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