A CIDADE GRANDE
Waldyr Argento Júnior
 

Não, não era eu! Eu juro! Deveria ser mais firme e convincente na minha explosão de desculpas...

Passaram-se os anos e eu estava ali, parecia esperar que as horas passassem sem que meu corpo sentisse o peso que as voltas do relógio impõem a todos os mortais. Entretanto e apesar de saber disso, teimava em fingir que do nada eu resgataria a vontade de viver e começaria a batalhar pelo meu sonho. Porém, o menino assustado teimava em brotar e de novo me escondia em desculpas esfarrapadas que pudessem maquiar a minha falta de habilidade e o meu medo de não conseguir vencer.

Já passavam das cinco da manhã e a madrugada fria deveria me fazer dormir feito um bebê. Todavia, o que havia dentro do meu coração machucado cortava lentamente minha carne e me corroia por dentro, me fazendo perder por completo o sono.

Eu tentara inutilmente navegar pelos canais da TV à cabo à procura de um filme que rompesse a minha monotonia e que fizesse com que ao menos temporariamente conseguisse disfarçar o dissabor da frustração. Abri um "Ubaldo" que já havia lido anteriormente pra tentar distrair a tristeza, mas não consegui me interessar nem pelo "lagarto" que dirá pelo "sorriso".

E tudo isso por conta das horas perdidas...

Às vezes sinto saudade da minha cidadezinha, modesta e silenciosa... Lá tenho a sensação de que muitas vezes o tempo parece passar mais devagar. As estrelas no céu e as noites de luar parecem sempre mais bonitas. Talvez, seja só nostalgia?

E a cidade grande cheia de sinais fechados,
Cheia de caminhos que não levam a lugar nenhum.
Versos na noite cheios de paixões perdidas.
Cheia de aventuras um tanto vazias,
Cheia de caminhos que não levam a lugar nenhum.
Não deixe o tempo passar, senão a vida vai te levar.
As horas paradas no transito caótico
As horas perdidas em troca de nada
As horas vencidas pelo relógio implacável
Horas paradas, perdidas, vencidas...
Pelo caótico do nada implacável
Pesadelo dos tempos atuais
Na cidade grande cheia de sinais fechados
Cheia de caminhos que não levam a lugar nenhum
Cheia de aventuras um tanto vazias
Horas paradas, perdidas, vencidas...
Versos no caos, sintonia do nada,
Horas paradas...

Onde foi mesmo que eu guardei minhas garrafas de whisky?

 
 

fale com o autor