O CACHORRO QUE PENSAVA QUE ERA GENTE
E VIROU PRESIDENTE |
Luciano Tadeu de Almeida
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Os
cães que vagueiam pelas ruas, - Luciano T. de Almeida - Thoby. Este era o nome do cachorro que nasceu numa noite de São João, quando a cadela viúva de um Pastor Alemão pariu sete filhotes, seis fêmeas e um macho. Mesmo sendo órfão de pai, Thoby teve uma boa criação. Com o passar do tempo, Thoby foi crescendo. O tempo foi passando e Thoby foi ganhando tamanho e aprendendo com a vida. Com um mês de vida, já era Thoby muito esperto: sabia nadar, correr, brincar de pular... Thoby temia o mundo e era tímido, sempre andava perto de sua mãe, pouca "conversa" queria, com os cachorrinhos de sua idade, gostava mesmo era de ficar sozinho brincando. O maior sonho de Thoby era voar. Um dia, não me lembro qual, saltou de um muro alto, de dois metros aproximadamente, e quebrou a pata esquerda dianteira. - Ai! Ai! Ai!... - Ele gritava como gente. Ana Maria, dona de toda a família de Thoby, ouviu os gritos, pensando que era a sua filha de quatro anos, Joaninha, deu um salto da poltrona onde sentada assistia televisão, fez o sinal da cruz, tremeu em desespero, e correndo foi até a origem do grito. - Meu Deus do Céu! Thoby!... O que aconteceu... Sua patinha esta quebrada! - Disse ao filhote como dizendo a si mesma. Ana Maria pegou o cachorrinho nos braços e às pressas saiu para levá-lo ao veterinário mais perto. Thoby ficou curado rápido. Também não sei o tempo aproximado que levou para esta recuperação, mas já estava pulando e brincando novamente. O tempo foi passando... passando... passando... Thoby foi crescendo... crescendo... Alcançara os cinco meses de idade. Estava mais esperto do que nunca: latia em espanhol, inglês, alemão, francês e português. Thoby não se sentia mais como um cachorro. Sabia que era muito mais do que isto. Não queria mais levar vida de cão. Sentia-se gente como a gente. - Eu não sou cachorro! Eu não sou cachorro! Eu sou um ser humano que merece respeito como qualquer ser humano! - Saia Thoby gritando em todas as línguas que sabia falar. Thoby fez seus documentos, virou cidadão brasileiro. - Meu nome é com as letras T, H, O, B e Y, dizia a todos as pessoas que escreviam o seu nome errado na sua frente. Thoby ficou independente, fez faculdade, fumou maconha com os amigos, criticou a política, escreveu poemas, comeu muitas meninas, formou partido político, leu Karl Marx, gostava muito do pensamento de Rousseau, admirava os heterônimos de Fernando Pessoa, escutava rock, fez várias greves a favor de melhores condições de trabalho; passou noites lendo livros de filósofos e poetas; andou o Brasil de cabo a rabo e até pegou na enxada. Thoby passava horas e mais horas meditando um meio de solucionar os problemas da nossa sociedade. Aos poucos foi crescendo a sua ideologia. Aos que criticavam o Brasil na sua presença, Thoby perguntava: - O que você faz para melhorar o país? Por onde Thoby passava o povo gritava: - Thoby! Thoby! Thoby! Algumas pessoas o invejavam. Ele tinha muita influência na vida do povo. Gostava de ajudar o próximo. Algumas pessoas queriam matá-lo. Houve várias tentativas de homicídio, mas todas falharam. Ele tinha muito poder. Era impossível matá-lo. Um dia anunciaram na televisão: - Thoby, se você não tomar jeito, iremos prendê-lo. Thoby nem ligava. Com a liberdade ameaçada e a vida em risco, fazia passeatas, greves, discursos... - Esta é a hora! É agora ou nunca! Vou me candidatar a presidente do Brasil, da república. - Disse alto consigo mesmo. Dito e feito. Candidatou-se a presidente; fez campanha com muita audácia, com toda a audácia do mundo. No dia da eleição, seu nome estava na boca do povo. Ganhou por unanimidade. No dia de receber a faixa presidencial, tomou um copo cheio de cachaça. Com a faixa a tiracolo no corpo, ergueu os braços e bêbado gritou: - Independência ou morte! Viva o Brasil! Depois desta cena, o povo cantou o Hino Nacional em uníssono. Thoby, bêbado que nem um cachorro, rolava pelo chão. |