Quisera, imensamente, não amá-lo. Seria tudo tão mais fácil! Eu não viveria da saudade, dos sonhos, das fantasias, da esperança. Não me alimentaria das lágrimas, do sofrimento, da tristeza, do desamor, de palavras sórdidas, de julgamentos errôneos e ferinos, do desencanto.

Seria maravilhoso conseguir não mais amá-lo! Eu não mais calaria as poesias que brotavam do meu peito, não sufocaria os sorrisos que outrora viviam presentes nos meus lábios, não saciaria a minha sede com o desgosto, a decepção, a desilusão, os desencontros.

Seria, simplesmente, fantástico se eu conseguisse deixar de amá-lo! Eu esqueceria todas as frases ferinas ditadas por você, todas as melodias irônicas cantadas pela sua voz, todas as suas provocações, todos os seus desmandos, todas as suas ofensas.

Seria melhor ainda se eu nunca o tivesse amado! Eu não teria lhe dado a oportunidade que lhe dei de, durante tantos anos, provocar o meu sofrimento, se envaidecer dos meus sentimentos, endeusar-se por saber que tinhas conquistado mais uma para a sua grande coleção de conquistas.

Se eu nunca o tivesse amado, pessoas sem escrúpulos e sem sentimentos não teriam idéias mirabolantes para fazê-lo crer que eu estava onde não estava ou dizia o que nunca disse. E, tampouco, teria lhe dado oportunidade para desacreditar do que tinhas obrigação de crer e de crer no que tinhas obrigação de acreditar.

Eu jamais o teria magoado ou ferido reagindo às suas ações e palavras que machucaram a minha alma, fazendo-a sangrar um pranto que jamais imaginarás a extensão, a quantidade, a constância e as conseqüências.

Bastaria não tê-lo amado, para que eu pudesse continuar sonhando até hoje e por todo o sempre, com o momento que eu o encontraria, que eu encontraria o homem que eu viesse a amar verdadeiramente e que me amaria na mesma intensidade, com a mesma força, qualidade e pureza.

Eu precisaria muito deixar de amá-lo, para voltar a viver na esperança de que um dia eu seria feliz ao lado do homem que sempre acreditei que seria capaz de me amar de verdade, que seria capaz de me defender de tudo e de todos, me protegendo com todo seu amor, em vez de acreditar que é ouro, todo amarelo que vê.

Eu necessito não mais amá-lo, para esperá-lo mais uma vez, para voltar a sentir confiança no amor e acreditar que vivê-lo é possível sempre, independente da distância, do tato, do olhar, porque ele é sempre maior do que tudo que possa existir ou acontecer, já que é em nome dele e somente com ele que somos capazes de ser felizes.

Eu já tentei deixar de amá-lo, mas jamais conseguirei essa façanha! Porque esse bendito amor que faz você o maior pedaço de mim, é a única mania que eu tenho, é a minha própria alma, o ar que eu respiro, o alimento que me sustenta, a energia que me dá força, o calor que arde dentro de mim, a maior razão do meu viver.