MAIS UM CASAL "DOWN"
|
Eduardo Sales
(Duninja) |
"Filho, já é a décima vez que eu te digo, não é desse jeito que você vai conquistar uma garota. Precisa, primeiro, conhecê-la bem." "Pai, é que... Ela é bonita e gosta de mim também." "Outra coisa, você é diferente maninho, e precisa se interessar por meninas iguais a você." No quarto, Seu Badri estava psicologicamente exausto, deprimido de leve. Apesar de ter um filho de 40 anos, solteiro e que ainda precisava de seu auxílio, aquele senhor não reclamava do escasso tempo que tinha para ficar com seus netos, seus outros dois filhos e sua esposa; se era sua cruz, decidira, desde do nascimento do caçula, agarrá-la com ímpeto, com a fúria dos animais de Pamplona. Cássio era o mais novo, desde guri aprontava. Esportista, fazia de tudo: natação, artes marciais. Quando criança assemelhava-se muito com os outros meninos, no quesito travessuras era nota dez; extrovertido com os moleques e necessariamente tímido com as meninas. Nunca davam trela. De quando em quando ficava "down" porque era constantemente maltratado no colégio, mas acostumava-se. Aos treze anos conhece Anota, da "Associação", e desde então começa a construir, com os ladrilhos da garota, a rua do relacionamento que fulmina a alma. Ela o escutava, e isso era tudo. Não suportariam, coitados. Entre os quinze e vinte anos Cássio namora Ana Luiza. Ela mor... Desculpe, é difícil dizer. Peço a sua licença, leitor, para que, ao escutar esta notícia não desarmonize, e proponho que, antes de prosseguir a leitura, ponha no CD Player ou no toca-fitas mais próximo músicas instrumentais de origem escocesa. Foi por causa de uma pneumonia e, na poesia de seus vinte anos, Cássio desarmoniza. "A única que se parecia comigo. Eu a amava. Está no céu." Desde então, é seu pai o maior refúgio, um anjo da certeza e da coragem. Com o fim de seu principal objetivo de vida, casar-se com Anota e ter muitos filhos, o rapaz passa a viver para o trabalho na "Associação" e, quando saía para se divertir, era com seu pai e sua mãe. Cássio amava concertos de música instrumental. Aos trinta anos forma-se como nutricionista, o mesmo sonho de Anota. A garota permanecia na mente, ele costumava conversar com ela, sobretudo quando ia se deitar. Era muito comum. Seu Badri sabia que o garoto (um homem) não esquecera do romance, mas pouco a pouco foi percebendo que as atitudes de Cássio se tornavam estranhas. Houve um dia que pegou o rapaz a olhar fixamente para o criado-mudo ao lado da cama, por mais de duas horas. Com os anos, Cássio se fecha mais no seu mundo e recusa, até mesmo, sair com seu pai, pessoa que confia tanto. Num dia chuvoso de setembro, Badri chama Dona Rita. "Estava pensando, como que aquela garota deve estar? Faz quase vinte anos que a gente tomou aquela decisão de afastá-los." Passam-se exatos trinta e nove segundos, quando a mulher, um pouco melancólica, responde, num tom sombrio. "Badri, meu querido, foi idiotice o que fizemos. Que merda... Que merda! Mas é um erro que será consertado. Não agüento mais vê-lo assim, pelos cantos, deprimido, conversando com cabides e bonés. Vou dizer a verdade a meu filho." "Não, doida!" "E é agora. Vou atrás dessa menina e levá-lo até ela." Seu pai mentiu pra ele. Não aceitava que o filho continuasse com aquela brincadeira e, convenceu a família de Luíza a matricular a garota em outra instituição. O menino descobriria, vinte anos depois, a farsa idealizada por seu querido pai. O homem harmoniza um sol. Dois dias depois, Dona Rita entra pela porta de um quarto de hospital junto com o filho. Anota, a mulher deitada na cama. "Oi." "...!!!" Alguns segundos e algumas lágrimas depois, Cássio pergunta: "Você é meu amor?" "Mamãe me disse que tinha morrido, Cássio!" Desde o reencontro, Cássio permanecia ao lado da mulher todos os dias e, mesmo doente, ela adorava escutá-lo. Mas, as condições de Anota piorariam duas semanas depois. Suas famílias estavam certas, não daria certo. |