Quisera
eu espoliar
A memória de meu passado.
Quisera eu extirpar
A faculdade do pensar.
Livrar-me-ia
da melancolia,
Da tristeza, das incertezas.
No oco da mente refugiar-me-ia,
Vivendo apenas de surpresas.
Estas
pequenas surpresas
deste infinito acaso das horas.
Viveria num presente incólume,
Liberto das almas de outrora.
Neste
acaso, opaco,
Sem passado, sem futuro,
Querer-me-ia somente um eu,
Na ordem do vazio de tudo.
Quisera
eu espoliar o pensamento
Entregando-me aos sentidos,
Aos animalescos instintos.
Tornar-me-ia, neste vazio, sobrevivente.
Quisera
eu, assim, extirpar-me
A saudade.
Quisera eu, assim, encontrar-me
No acaso.
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