AMANHECER
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Marina W
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ela pousou a testa no meu ombro e eu senti seus cílios encostando na minha pele e mesmo sem saber porque abracei ela forte bem forte para ter certeza de que ela não iria embora outra vez como nas outras vezes em que acordei e a maciez do lençol roçava meu corpo como arames com farpas e eu tentava lembrar o sonho que eu tive com ela pelo menos um sonho mesmo um flash mas nada e só havia a foto onde ela parecia séria demais os óculos de grau e tartaruga os cabelos desalinhados a mesma boca que conheci tantos anos depois a mesma boca o retrato era tudo que eu tinha e eu tentava não chorar quando olhava pra parede o durex amarelado seus olhos semi-cerrados o casaco grande demais para um corpo tão pequeno mas quando foi mesmo que ela foi embora se ao menos pudesse saber o porque talvez pudesse haver um alívio um pequeno alívio esbarrando naquela dor claro que a culpa foi minha eu não tinha densidade suficiente é isso eu não tinha densidade suficiente para descobrir os pensamentos que faziam dela o meu amor ela era o meu enigma e talvez o que eu sinto por ela tenha nascido dessa incompreensão - quem é essa mulher que me olha tão fixo a espera de respostas foi isso que eu pensei no bar enquanto ela bebia água sem gás as franjas irregulares minha boca à espera de um beijo e ela partiu tantas vezes sem malas sem roupas de frio naquele inverno úmido demais aquele gelo e eu acordo e durmo e tomo pílulas que me desanimam por dentro olho a porta na certeza do meu amor chegar carregando seus livros suas canetas os óculos de grau e tartaruga e nem um bilhete alguma coisa que eu possa ter além da foto onde ela aparece séria demais e essa chuva na janela o último beijo que eu nunca lhe dei e os dias passam e eu durmo e acordo durmo e acordo durmo. |