SOLUÇÃO DO PROBLEMA DE CAMILO
Jayson Viana Aguiar
 

Depois de trinta anos de casados, Camilo ainda procurava solução para seu problema: não podia estar em um elevador, automóvel ou em qualquer outro ambiente fechado que lhe dava vontade de liberar a ventosidade.

Tentou vários regimes alimentares, pois os gases podiam ser conseqüência de alguma comida que lhe fizesse mal; no entanto, não obteve nenhum sucesso.

Buscou inúmeros médicos de especialidades distintas, mas nenhum conseguiu solucionar seu problema. O sogro rico até o mandou para um médico nos Estados Unidos, um que era considerado a sumidade mundial no assunto, porém, a única coisa que Camilo logrou do médico americano foi ter seu caso encaminhado para um centro de estudos militares que tentou analisar as propriedades fisiológicas dos peidos de Camilo. Queriam usar a essência dos gases do brasileiro na produção de uma arma biológica.

Ele procurou mães-de-santo, rezadeiras, centros espíritas, exorcismos cristãos, acupuntura com um chinês que morava clandestinamente em São Paulo, terapia de pedras quentes, tudo sem alcançar o resultado esperado.

Usou os mais caros e avançados remédios, garrafadas do mercado Ver-o-Peso, chá do Santo Daime, simpatias da revista Contigo, mezinhas de índios guaranis; e, nem com isto tudo, Camilo achou solução para seu problema.

E chegou o dia que sugeriram que Camilo procurasse um médico em Fortaleza, o doutor Fudêncio. Avisaram que ele era pouco ortodoxo, usava métodos não convencionais, mas que resolvia qualquer problema. Depois de aguardar três meses para obter um horário de consulta e já meio sem esperança, Camilo foi à clínica daquele médico. Logo no primeiro peido que Camilo deu ao entrar no consultório, o doutor sugeriu que conversassem no banco da praça que havia em frente da clínica.

Depois de quase uma hora escutando sobre o problema do paciente e sobre tudo que já tentara para solucionar o problema, doutor Fudêncio solicitou que, na próxima consulta, o paciente trouxesse uma garrafa do melhor vinho tinto que encontrasse.

Camilo voltou dois meses após a primeira consulta, quando logrou outro horário na agenda do doutor. Trazia, debaixo do braço, a garrafa de um caríssimo vinho e, no rosto, o sorriso esperançoso de se ver curado. Já pensou, ser curado logo com a ingestão de algo tão apreciado por ele, Camilo?

No mesmo banco de praça, sentaram-se médico e paciente.
Fucêncio havia levado duas taças e um saca-rolha. Fudêncio abriu a garrafa, despejou o vinho nas taças. Tomaram silenciosamente o néctar dos sábios até a última gota. Com o último gole, veio a pergunta:

- Doutor, nesta garrafa há a solução para meu problema?

- Sem dúvida!

Camilo era só contentamento.

- É o vinho?

- Não, é a rolha!

 
 

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