OS PASSAPORTES DE MARIA LIA FURTADO
Karen Caroline Costa
 
 

Para sair da monotonia e entrar no extraordinário universo do conhecimento, Lia fez de seu desejo um passaporte.

Ao pisar em território lisboeta se deparou com seu passado, não exatamente o seu como Lia; Aquela língua, todo aquele pudor português, algo dizia que já estivera por ali.

Sem que "quase" ninguém reparasse, a moça abria de leve a boca, as mãos amoleciam e involuntariamente seus olhos se enchiam de lágrimas, em sua mente passara toda a sua infância, cenas de alguns filmes desta época em preto e branco, quadros pendurados na parede da casa de sua avó, odores que ela não conhecia mas assim mesmo os reconheciam, sem saber como e nem por que.

Subitamente uma senhora a tocou e perguntou se sentia bem, Lia já se encontrava deitada nos braços da senhora.

Mais uma vez seu desejo e sua mente foram seu passaporte, no momento Lia se encontrava dentro de um sonho lúcido, em um jantar com umas trinta pessoas, onde reconhecia algumas; o primeiro namorado na passagem da adolescência para a fase adulta, dona Yolanda que lhe proporcionara seu primeiro emprego, seus pais, suas duas irmãs, o homem que lhe vendera o primeiro carro, a primeira amiga na faculdade, a prima que falecera de câncer na adolescência, a pessoa que disse sim para que sua foto fosse finalmente publicada e ao seu lado um homem que não reconhecia.

Homem este que após um ano em Portugal lhe dera o passaporte mais valioso de sua vida, a ilustre maternidade.

Nem todo passaporte é de papel e exige foto, mas como se torna especial é sempre bom registrá-lo.

 
 

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