AS ESTAÇÕES
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Edson Campolina
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O sonho era lúcido como se derradeiro fosse. A velha parteira aproximou-se lentamente da cama e estendeu-me um passaporte velho de apenas três páginas. As folhas amareladas eram espessas e a primeira era enrugada como a pele daquela anciã. Tinha um carimbo que lhe preenchia quase completamente e no centro o título de "Estação Passado" com minha data de nascimento abaixo. Antes que virasse a página a velha gorda, de cabelos longos e grisalhos, interrompeu meu gesto com um aceno. _ Este é o início de sua jornada. A primeira e a derradeira estação. Dela você partiu sem nunca deixa-la. Só olhaste pra frente da locomotiva. Passei aquela página e na seguinte um outro carimbo, e no centro o título de "Estação Presente". A tinta ainda cheirava. A data era a do dia. Olhei a velha parteira aguardando sua explicação. _ Este destino nunca existiu, sempre deixou de ser. Engordou o passado e alimentou a locomotiva com o carvão da esperança. Ainda procurando entender o significado da afirmação da anciã, virei a página e percebi que a terceira e última folha estava branca e nova. A mulher arrastou suas chinelas em direção à porta e se foi. Levantei-me naquela manhã com a convicção de lavar da pele a poeira que pesava meus passos. Ergui a cabeça e sorri para a aurora. Senti que era preciso caminhar rumo ao horizonte daquela estação incógnita, construir o futuro com as bagagens deixadas na "Estação Passado", soltando suas correntes que lhe prendiam em minhas manhãs tornando-as soturnas. Meu peito bateu ao compasso de uma locomotiva. E foi neste dia que lhe conheci. Fim. Disse-me
outrora um alguém Nunca
se deixa a segunda, |