PASSAPORTE NEGRO ©
Cármen Rocha
 
 

3/jun/05

Ele queria todas as coisas, apesar de saber que o homem colhe maldades, doenças, desaforos, mal querências, dores, furtos... Colhe-se o nada. E para o resto dos dias.

Mas como é tolo e esquecido, passa a vida querendo colher coisas boas, grandes e pequenas: gostosuras como baba de moça, pesinhos de crianças, dinheiro e mais dinheiro, casa boa, nadar no rio, carros último tipo, flores, sensações da carne, pores-do-sol, pipocas de copos grandes, muitos afagos, entardeceres e outras...

Quando cresce, não importa a idade, ele descobre que mais se perde do que se ganha. Mas ai, é tarde - ele recebe o passaporte final. O passaporte negro. Não importa, então, pois a perda é total.

 
 

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