LUCA
E ZUZU
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Eduardo Prearo
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"Já
não é leve o perigo quando "Quando
os olhos não admiram o
A amorosa Luca tudo sofre. Poço de bondade grande, não vive enclausurada em um convento do ponto leste. Aos sábados de mendiga disfarça-se, recalcitrante quanto aos detalhes da esfarrapada indumentária. Ela quer auxiliar os enfermos miseráveis abocanhados pela fome. Na escapulida mais recente achou Zuzu, indigente pagã que mora sob o Chá. Zuzu em renascimentos crê, na sua penúria como um efeito crê; ela faz magia de todo o tipo e também fogueiras vez ou outra, no frio, no friozinho, no frio de lascar. Ah, essa Zuzu! Bom, o encontro primeiro das duas foi estranho; o encontro segundo não; aí já eram amigas: --- Oi, Zuzu, cheguei! --- Por que não se senta? Você parece aquela bruxa, não me lembro o nome. Viu que levaram os outros para os albergues? Menos eu e você. Ah, eu me escondi. --- Você está mais corada hoje. Trouxe-lhe mais bombons. Hum, nem me agradece, querida? --- Grata estou pelas personalidades deste teatro ínfimo que é a vida. Agora saia daqui, sua bruxa. Sou caso de polícia. --- Saia daqui...hum, você deve ter ouvido isso muitas vezes, não é? Não seja má. O mal é ruim. --- Mal? Mal é mandar matar, ah, ah, ah... --- O amor de Cristo nos uniu. --- Fui Cleópatra em outra vida. --- Inexistem outras vidas, só existe uma, esta, a que estamos vivendo. Sabe, sei que você gosta de cantar. Sei de um lugar onde há um coral de freiras e... --- Não me venha com coral de freiras. Que nojo! A bituca de cigarro tem cocô. Me dá um cigarro? --- Olha, tenho aqui três maços. Mas faz muito mal para a saúde, viu? Aprenda a acalmar os nervos de outra maneira; orando, por exemplo. --- Ah é, se você tiver algum defeito que morra! --- Só estou querendo ajudar. Não chore. Não chore. Seus olhos ficam verdíssimos quando você chora, percebi isso desde o primeiro encontro. Não queira o mal de ninguém, isso é horrível, traz sofrimento. --- Não me peça nada, Luca. Sou o que sou. Só preciso de um empurrãozinho. A gente é obrigada a ficar em um país que não gosta. Aqui as pessoas nunca têm defeitos. Quando precisarem de mim para alguma coisa, o que será difícil, não vou ter. Sou mesmo uma imoral e... --- Quieta! A lua está cheia e bonita. Esquenta um pouco de leite na espiriteira pra mim. Sabe, quando eu era jovem, saia correndo de tanto amor que sentia. --- Acabou o álcool. --- Deixa, então. --- Luca...olha, não quero ser chata. Mas você não é mendiga, você é uma disfarçada. Ou então é uma dondoca cujo o amor foi exterminado por cheques voadores. Vão-me maltratar, eu sei, não trabalho! --- Tem família? --- Sempre vêm com a mesma pergunta. A minha pátria é o Universo a partir de agora. --- Ah é, que bonito isso. --- É. |
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