POR QUE?
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Adriana Vieira Bastos
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Por que me manda embora, se teus olhos me pedem para ficar? Com esta pergunta Ricardo conseguiu fazer Renata rir como há muito não ria. Era uma pena que ele não tivesse tido tempo de enxergar além do seu triste olhar, pensou ela. Por outro lado, tinha que admitir não ter sido enganada. Ele sempre fora o que era. Apaixonante a primeira, segunda, terceira vista e todas as demais vezes que o encontrava. Daí sempre ficar com aquela cara de que seria a ultima vez que cairia na lábia daquele irresistível "Dom Juan". Mas tinha uma justificativa para as suas recaídas. Ele não era um conquistador barato, desses que se encontra por ai. Sabia ser especial. Sabia dizer o que ela precisava ouvir. Amar como precisava ser amada, e sabia, como ninguém, lhe deixar a dor da saudade. Também não tinha porque culpá-lo! Nem o direito de exigir nada! Estava cansada de ouvi-lo dizer o quanto era livre e estava acima destas parcerias castradoras, firmadas entre seres inseguros. O que ele não entendia, porém, é que estava na hora dela buscar a sua própria liberdade. Estava na hora de deixar de ser escrava da carência, que a fazia aceitar qualquer migalha que a afastasse da solidão. Com esta compreensão, e ciente de que ele não iria entende-la, optou por simplesmente vê-lo partir. Era gostoso sentir-se não mais disposta a ser mais uma na vida de alguém, que não estava disposto a partilhar a sua vida com ninguém. |