QUASE O MESMO QUE AMOR
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Karen Caroline Costa
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Beatriz sempre se queixara de Raphael, seu marido, dizia que não falavam a mesma língua, que não se interessavam pelas mesmas coisas. Raphael por sua vez não demonstrava pensar em nada a respeito. Algo em comum eles tinham que ter, e tinham, quanta intimidade, as palavras, as manias, os mais profundos segredos, eram sempre íntimos e compartilhados entre os dois. Já não existia mais amor, tesão, paixão, mais aquela intimidade... Das vezes em que se separavam, ambos se sentiam fora do mundo, sem porto, sem chão, era uma intimidade homérica, era a maior de todas em relação a qualquer pessoa. Beatriz era do ramo de cosméticos, foi á Paris a trabalho, como não poderia deixar de ser, eis o eterno clichê, em Paris conhece Vinícius, um engenheiro químico, foi paixão á primeira vista, Paris faz isso com as pessoas. Ao retornar para casa em Belo Horizonte, sem muitas palavras, ela pega o que lhe pertence e vai para um hotel com Vinícius, Raphael se indigna, mas não se expõe como Beatriz imaginara. Cinco meses após o início do romance parisiense, Beatriz chegara a conclusão de que intimidade de menos vira falta de afinidade no futuro, não se sentia á vontade nem mesmo para esfregar o próprio corpo na hora do banho a dois, sentia-se presa aos banhos sedutores dos comerciais de sabonete, decidiu então procurar Raphael. Muita casquinha de milho no dente,muitas palavras que saiam facilmente da boca, muita liberdade e foi assim por muitos anos Raphael e Beatriz, e Beatriz com o elegante Vinícius, intimidade é muito necessário, é quase mais que amizade é quase menos que afinidade, é quase o mesmo que amor. |