FALANDO A VERDADE
José Luís Nóbrega
 
 

No dia do casamento, a noiva estranhou a coloração dos cabelos do noivo. O topete parecia estar meio avermelhado, e as costeletas meio brancas. Será que ele pintava os cabelos, sem que ela soubesse? Bem, aquele não era dia, nem mesmo a hora para perguntas indiscretas, pensou a futura esposa.
Na noite de núpcias, ele se portou também de maneira diferente. Não parecia o mesmo homem que, durante o namoro, mostrava-se um verdadeiro "leão" na cama. Na primeira noite do casamento ele parecia mais um "gatinho manso".

Já logo nos primeiros dias do casamento, algumas perguntas sem respostas. Onde ele trabalhava? Quanto ganhava? Por que saia muitas vezes no meio da noite, e dormia até tarde do dia seguinte? Contudo, para não perder o amor de sua vida, a mulher passou a não se importar tanto com a vida estranha de um marido também um tanto quanto... estranho.

Os anos foram passando, e ela sem saber muito sobre a vida do esposo. Por meses ele trabalhava e aparecia com muito dinheiro em casa. Depois ficava por meses na pior, sem um único centavo no bolso. A mulher se negava a aceitar que desde o início, o casamento, e aquele homem, eram na verdade uma grande mentira.

Mas, eis que um dia, a mulher ouve a notícia de que um grande banco da cidade havia sido assaltado, e que o assaltante cometera o crime vestido como Papai-Noel para não ser reconhecido. As câmeras do banco registraram a ação do bom (ou mau) velhinho, que se apresentara com barba branca, botas pretas e tudo mais.

No dia seguinte ao grande assalto, ao revirar o guarda-roupa, a mulher encontra a fantasia de Papai-Noel do marido toda amarrotada, e ainda, o saco, que nos natais ele enchia de presentes, agora, estava abarrotado de dinheiro. Notas de cem pareciam querer saltar para fora daquele saco branco. Estavam em pleno mês de maio, e aquela, não era época para usar a tal vestimenta. Ela aguardou o marido chegar para pedir explicações. Minutos depois, ele chega bufando da rua. Devia ter corrido por quilômetros. Abriu a porta, e ao ver que a mulher o esperava com o saco de dinheiro nas mãos, foi logo se explicando.

Disse que no dia anterior havia pedido doações a vários empresários da cidade, e que o dinheiro seria doado para o Lar das Criancinhas Pobre e Desamparadas, e que a polícia estava atrás dele, achando que seria ele o assaltante do banco. Jurou, de pés juntos, que já havia passado em um advogado, e que o larápio havia pedido uma fortuna para o defender. Nem sabia se o dinheiro do saco seria suficiente. Vê se pode?! Eu, assaltante de banco?! Você acredita em mim, não acredita, meu amor? Repetia o esbaforido marido.

A esposa diz que acreditava em quase tudo. Só não podia acreditar que um advogadinho qualquer tivesse cobrado tanto dinheiro pra defender um pobre inocente. Ele pega o saco, e antes de abrir a porta e ganhar a rua, a mulher insiste para que ele nunca mais mentisse para ela. Advogados não poderiam cobrar tanto por um trabalho tão simples. Eles sim, eram os verdadeiros ladrões da história. Manda um beijinho para o marido, e pede para ele não se preocupar. Ela estará sempre, sempre, sempre... ao lado dele, para o que der e vier...

 
 

email do autor