KLAUS
MARIA
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3 de agosto de 2776, São Paulo. Da janela cor-de-púrpura, Klaus Maria olhou furtivamente para a paisagem árida, de concreto, poeira, vento e desolação. Resolveu sair, refrescar a mente em algum jardim artificial, mas uma amiga, Penélope, atravessou a porta do quarto para contar-lhe algo. --- Olá, Klaus Maria, entrei assim, é que estou ansiosa. --- Sem problemas. Cheguei da lua anteontem. Muito trabalho na auditoria lunar. Os trens para lá estão ficando cada vez mais rápidos. --- Como? você não tem dinheiro para tomar um microtáxi espacial? --- Não. --- Que pena, Klaus Maria. Achei que as coisas ficariam melhores para você. Posso imaginar o que andou aprontando em outras vidas. Trago-lhe uma missão. --- Missão? Penélope, estou em uma dureza desgraçada! Estou liso, leso, louco, querendo dinheiro emprestado e pedindo o troco! --- Vai, vai, a vida é dura para quem é mole. --- Está bem, chefinha. --- Já estou sem o corpo denso há décadas, porém continuo lhe dando ordens, não é? Perdão. Precisamos de alguém que vá até o Peru libertar um povo oprimido por um tal de Keilua Koo. Você terá de se infiltrar na aldeia blindada do ditador. Entrará como um clone de EP; aliás, a semelhança entre EP e você é impressionante! --- EP? Ah, aquele inseto do século vinte e um? --- Inseto não, veja a essência oculta nele. Keilua Koo tem EP como um deus, ainda não sabemos o porquê. --- Sim, e quando parto? --- Agora. Vá até este endereço e pegue seu material, depois parta. Parta! --- Ok. Três horas depois, Klaus Maria chegou à Lima. Pegou uma foto de EP e se sentiu o próprio, sentiu-se um clone do elemento. De onde vinha tanta semelhança? De Lima a aldeia, Klaus foi de carro. O clima era sequíssimo e cactus gigantescos ornavam a paisagem. Klaus, então, divisou uma estrutura semioval vermelha e concluiu que era a aldeia. Parou o carro e desceu. Percebeu que estava sendo observado por câmeras flutuantes, havia centenas delas ao seu redor. Uma porta da estrutura se abriu e surgiu uma linda mulata: --- Acompanhe-me EP. Os sensores identificaram-no como EP. Que esteriótipo, hein? O senhor se identifica com seu esteriótipo? --- Sim, mas pra mim mesmo. --- Como? A população pareceu-lhe tristonha, escrava. As pessoas andavam superdevagar, carregando coisas. Klaus não se alterou e continuou sua caminhada atrás da mulata, rumo ao gabinete de Keilua Koo, que quando o viu, exclamou: --- Oh, EP, EP! --- O clone. --- Sente-se. Vou tratá-lo como um deus. Há fotos suas pela aldeia toda, não reparou? --- Sim. Tadinho do original. Acho que vou me candidatar a prefeito, sabe. Mas como vocês gostam desse EP não sei das quantas! Keilua, antes de mais nada, por que tanta gente triste, triste? --- Estão fazendo greve de fome porque se recusam a olhar para o cara das fotos, no caso, você, EP. Mandei que carregassem o ouro, como castigo, entende? --- Tire minhas fotos dessa aldeia, Keilua. Ninguém gosta de um cara feio desses. Parem de me cultuar. Não fique os obrigando a fazerem o que não querem. --- Está bem, está bem, EP. É uma ordem. Agora vá e descanse. Klaus dormiu muito, umas 18 horas pelo menos. Acordou rodeado de orquídeas cor-de-abóbora. Meditou um pouco e pensou em Penélope. Não iria libertar e partir, iria libertar e ficar, morrer ali. Largaria o emprego na lua. De súbito, a campainha de sins nordestinos (última moda em Paris) tocou e uma mulher verde entrou: --- Senhor, Keilua me pediu para entregar-lhe este anel de diamante azul. Ele quer ser seu amigo íntimo. Aceita? --- Sim, aceito, aceito. E Klaus Maria tornou-se uma espécie de príncipe naquela aldeia, libertando o povo oprimido... |
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