Podem
roubar-me as posses,
Revelarem meus antigos passos,
Publicarem meus escritos e recados,
Condenarem meus pecados e
Exibirem meus recatos.
No
inevitável e derradeiro dia,
Tomarão posse de um corpo,
Desnudo, indefeso, moribundo.
Não mais terão detrás deste olho
Minh'alma que se escondera do mundo.
Descubram
minhas amizades
Verdadeiras e falsas, e passageiras.
Mas não desvendarão meus segredos,
Ocultos nesta eterna companhia
Que não se rendeu por amores enfermos.
Comigo
levarei a intimidade
Dos amores secretos e sofríveis,
Dos desejos mais bizarros e impossíveis,
Das certezas solitárias e da saudade
De quem carregarei até minha eternidade.
Guardada
na alma que então flutua
Minha intimidade liberta de armadilhas,
Confidenciada à mudez desta lua
E da errante senhora rapariga,
Levarei ao infinito das noites e dias.
Pois
resta-nos somente esta vida:
Uma imaculável intimidade,
Lá dentro da alma, contida.
Fiel e discreta guardiã
Dos mais íntimos e sigilosos pensamentos.
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