PRATO INDIGESTO
Bruno Pessa
 
 

Falar de política, como diria mamãe, não é bolinho não. Não por acaso, os colegas jornalistas responsáveis por essa área de cobertura são geralmente os mais escaldados e munidos das melhores agendas, com o que há de mais "quente" em termos de fontes. Pode checar: 99% das reportagens de política, nos jornais impressos, apresentam relatos de pessoas que preferem não se identificar, evitando que suas informações espinhosas causem um efeito bumerangue.

Pessoalmente, ainda não gozo de intimidade com o tema, por mais que o acompanhe diariamente no noticiário. Da faculdade, trago a frustração de não ter visto a cobertura da greve universitária concretizada, depois de toda a dedicação na produção e edição, em função dos problemas orçamentários caros ao ensino superior público. Do ponto de vista do espectador que tenta compreender o que se passa nos gabinetes e plenários de Brasília, o desafio é encurtar a distância entre minhas teses utópicas e a vida como ela é.

Em qualquer cidade, é comum os secretários do prefeito(a) serem especialistas nas pastas que ocupam, certo? Correto, e nada mais natural que um médico como titular da saúde. Nas esferas estadual e federal a receita se repete, certo? Errado, pois os ministérios, por exemplo, representam os cargos de maior visibilidade que o governo distribui entre a base aliada, conforme barganhas interessantes aos dois lados. A nomeação, em vez de depender da competência na área, atende a um jogo claramente político.

Partidos também me encafifam. OK, são entidades legítimas, de certo modo agregando correntes ideológicas e facilitando o processo democrático. Todavia, não há como negar a flutuação das siglas em torno das ondas que levam ao poder e a asfixia das condições de situação e oposição, seara na qual o cenário eleitoral prevalece sobre o interesse público da nação. Se surgem indícios de corrupção numa estatal, então se vota consensualmente pela CPI, de acordo? Negativo, já que quem fecha com o governo não pode arriscar sua reeleição. Caso um projeto do Executivo pareça inovador e ousado, dá-se uma chance para ver se a coisa funciona? Dificilmente, porque a oposição deve buscar alguma razão para contrariar a idéia e derrubar a iniciativa. Ou seja, o que é melhor para o país só sai do papel se convém ao parlamentar e ao seu partido.

Tudo bem que política envolva mesmo projetos de poder, status e regalias, mas isso tudo a gente engole se os representantes se lembram de que estão ali, primordialmente, para zelar pelo interesse dos seus representados. Vendo que não é bem assim, fica cada vez mais difícil não se contrariar como cidadão e, sobretudo, como jornalista que precisa conviver com um tema que insiste em lhe escapar entre os dedos.

 
 

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