SETENTA HORAS DE AMOR
Pedro Brasil Junior
 
 

Durante setenta longas horas ficamos juntos.

Fazia tempo, lembra?

Pois saiba que eu não consigo lembrar da última vez em que ficamos assim, juntos, deixando o tempo passar e colocando todas as coisas em ordem.

Não foram momentos fáceis, você bem sabe!

Ah! Mas que valeram a pena, com toda certeza!

Não me reprima por tamanho descaso. Eu achava que você estava sempre aqui, ao meu lado, fazendo todas as coisas do jeito que eu sempre fiz.

Mas me enganei!...

Onde andava você ao longo dos anos?

Esperando uma oportunidade, eu sei. Mas infelizmente, você sabe; eu tinha tantas coisas a fazer, tanta gente com quem me preocupar, tantas obrigações e deveres.

Esqueci de você!

Mas também; que importância tinha você na minha vida?

Eu nem fazia idéia, mas...algumas vezes em que me olhei no espelho percebi tua cobrança.

Você me dizia: Pare!

E eu insistia em me debater com a vida!

Você me olhava e tirava o maior sarro.

Você tinha razão!

E eu tinha as minhas!

Mas enfim, acabei me rendendo aos teus caprichos e deixei o vazio tomar conta de tudo.

Foram setenta horas de um silêncio pavoroso! Setenta horas de uma solidão monstruosa! Setenta horas que esses relógios marcaram segundo após segundo e enquanto isso, meu coração foi apertando, apertando e tive que chorar!

A dor era forte! E senti minha fonte, lá tão distante, se avolumar e despencar do alto feito cachoeira...

Nestas setenta longas horas, revi o filme de minha vida e refiz tantos caminhos percorridos para descobrir com você as minhas falhas, os meus sonhos, os meus erros e acertos, as minhas alegrias e tristezas.

Passei pelos lugares todos onde estive e revi todas as pessoas com quem convivi. Tive que perdoar todas elas por todas suas ações faltosas para comigo.

Você sabe; humanos erram tentando acertar. E eu não sou diferente!

Muito bem camarada, cá estamos frente a frente depois dessa reciclagem de vida.

Olho pra você agora, diante do espelho e te peço perdão pelo abandono. Esqueci mesmo de você, mas... antes tarde do que nunca.

Que aquelas setenta horas tenham de fato e de direito nos unido de uma vez por todas.

E que todo o amor que já dediquei aos outros, na mesma forma e intensidade, eu possa, a partir de agora, dedicar inteiramente a você afinal; somos um só, embora sejamos você e eu.

Eu sou você diante do espelho. Admiro-te tanto quanto as mais belas cenas que já vi nos quadros, nas telas de cinema e através das tantas janelas onde já me debrucei para exaltar a beleza de viver.

Agora que reatamos esse amor tão grandioso, quero que saiba que qualquer outro amor, novo ou antigo, será apenas um amor condicional, que me acompanhará nas passadas que achar conveniente.

Já você, grande camarada, será sempre o meu amor maior, o meu grande companheiro de toda e qualquer jornada, o meu melhor amigo, o meu melhor confidente, o meu melhor conselheiro e, acima de tudo, o melhor sujeito do mundo.

Meu caro EU. Que em todas as próximas horas estejamos unidos, sem precisar contar o tempo e muito menos com quem quer que seja.

O tempo agora é o nosso caminho e a jornada nos levará, você e eu, juntos, na meia-luz, até os portais desse maravilhoso objetivo chamado felicidade.

 
 

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