CLARIDADES
Edison Veiga Junior
 
 

O ócio acende a luz.
O cio ascende-a.

***

Era uma vez um facho de luz que queria se tornar feixe de laser quando crescesse.

- E quem disse que luz cresce? - dizia o seu pai Sol, bonachão, e dava-lhe um croque na cabeça.

Mas o fachinho insistia. Insistia. Insistia.

Num belo dia de chuva, acordou assustado. Tinha virado meia-sombra.

***

Bola de meia e a meninada meia-sola disputando outra pelada à meia-tarde.

***

Depois de mais uma meijoada, Meire estava meio enjoada:

- Doutor! Me perdoe! Eu juro que não estou grávida!

***

Confesso que sempre é difícil chegar a um consenso.

Para ela, sexo só à meia-luz. Ele prefere com a claridade plena, o quarto cheio do clarão, o ver dos corpos, as faces do prazer se mostrando claramente.

Para ela, sexo só à meia-luz.

Para ele, nada como a meia-luz para tocar sax. Sozinho.

***

Meia-idade, meia-lua, meio-a-meio.

Medíocre, intermezzo.

Meio-dia. Meia-noite. Meias-verdades.

Meias furadas, meio cansada, meio do caminho.

Mês-a-mês, mesóclise. Mesa. Meio-aliche, meio-mussarela. Não, não: meio-calabresa, meio-quatro-queijos. Meias sujas ou mal-lavadas.

Meio inteira.

À meia-luz.

***

Tinha também aqueles versinhos bobos de "o sol prometeu pra lua patati-patatá", respondido por outra
menina com "e a lua prometeu pro sol blo-blo-bló, bla-bla-blá".

Eu preferia a noite. Só pra apagar a luz e, da janela, ficar uivando pra lua cheia.

Desconfio que sempre fui meio lobisomem.

***

Preparei a meia-légua e acertei o bandido de meia-figa
(porque figa inteira ele não merece, claro que não!).

***

Éramos em meia-dúzia mais o pé-de-meia. No meio da jornada um virou cientista:

- Inventei a meia-espessura!

Os outros cinco olhamos, boquiabertos:

- Que maravilha! E seguimos com nossa labuta. Foi quando um outro comprou diploma de engenheiro e
desatou a...

- Vou trabalhar com meias-esquadrias.

Os outros quatro olhamos boquiabertos2:

- Noooooossa! E seguimos com nossa labuta, cabisbaixos. Até que um outro outro comprou uma supermochila e saiu gritando:

- Virei alpinista! Estão vendo aquela meia-laranja? Pois amanhã mesmo começo a escalá-la!

Os outros três olhamos boquiabertos3:

- Oh! Oh! Oh! E seguimos com nossa labuta, mais cabisbaixos ainda. Mas logo depois um outro outro
outro exclamou:

- Caríssimos: o amor esteja convosco. Quem dentre vós tiver coragem, tomai uma veste de meia-lona e vinde
comigo.

Os outros dois olhamos boquiabertos4. O outro outro outro outro virou discípulo e escafedeu-se. Eu sobrei
à meio-vôo, só pra lhes contar a história, afinadíssima com todos os seus meios-tons. O pé-de-meia, agora, é só meu.

***

O cio vem à meia-luz.

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Evidente que a clarividência pertencia, incólume e irrefreável, à Clara. Como a clara era do ovo, o ovo da galinha, e a Galinha, filha de uma puta, era a mulher do corno do Seu Onofre. Também... com um nome desses!

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Galinha vestia meia-coronha naquela noite em que a penumbra denunciava a indecisão da luz em alumiar as
almas. Os postes, um sim, um não, falhavam - coisa de interior fugidio.

"Uma meia-lagarta por aqui seria deveras estranho", pensava eu, narrador-personagem, infiltrado na trama e
escondido detrás de um poste apagado.

Até o roteirista sacar a borracha e também me apagar da história.

***

Desenhei uma rosa-dos-ventos e oferecia cada meia-quarta a uma de minhas namoradas, como se eu
inventasse um buquê ao contrário, como se eu criasse um ramalhete de pessoas para uma rosa em especial,
como se as mulheres todas fossem melhores, não chorassem espinhos e cheirassem bem. Todas elas.

***

Meia meia meia. Meia-entrada, meia elástica, meia-encadernação.

Meio-campo, meia-armador. Meiágua. Meia-irmã:

- Meia-final, meia-estação, meia-esquerda! Meia-direita...

Meia-cara, meia-cana. Cara-metade.

Meia-cancha? Meia canha: meia confecção, mea-culpa.

Meia-colher, meia-tigela.

Meia-noite e meia. Meia-hora.

Meia-calça. Pela metade. Meia-manga. Meia-luva.

Tudo em meias-claridades.

***

A meia-rédea percorri a meia-rotunda do globo. Mas tudo fora meia-tinta, pra dissuadir os meias-praças que buscam as riquezas de minha dentadura.

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Por meia-pataca, a meia-pontense abriu-me a meia-porta de seu coração tríptico: pai, filho e espírito santo.

***

Meu amor: apanhe sua meia-máscara que amanhã é carnaval!

 
 

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