DOCE MENTIRA
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Ela trabalhara em casa o dia todo. Passara aspirador no carpete, tirara o pó dos móveis, trocara os lençóis da cama, colocara a colcha nova e deixara o banheiro um brilho, com o famoso cheirinho de pinho. Esticara o pano do sofá, trocara a toalha de mesa, perfumara o ambiente e espalhara flores em pontos estratégicos da casa. A cozinha ficara tão perfeitamente organizada, que agora parecia ter saído da capa de uma revista especializada. Fora ao supermercado, fizera as compras para o jantar com cuidado. Escolhera o que encontrara de melhor para a entrada, e o que havia de mais requintado para o prato principal. Enfrentara a fila do mercado com paciência e também o trânsito intenso durante o trajeto de volta. Acabara chegando em casa mais tarde do que supunha, e agora ensaiava uma corrida contra o tempo. Tomou seu banho, mas ainda que tivesse pressa, não poupou minutos ali. Aproveitou para relaxar um pouco, sentindo a água tépida bater-lhe no corpo, usou sabonete líquido esfoliante, com fragrância de rosas, e lavou os cabelos com xampu de leite. Ao deixar o box, cuidadosamente passou creme no rosto e perfumou-se. Foi
para seu quarto e passou a envolver-se com a etapa que acreditava ser
a mais árdua daquele dia. Abriu as portas do guarda-roupa e não
conseguiu encontrar nada. Como a moça da propaganda, sempre achava
que não tinha o que vestir. Neste processo perdeu minutos preciosos,
até que finalmente encontrou alguma coisa que lhe pareceu perfeito
para aquela noite. Tentou vestir-se, mas a roupa já não
servia mais. Quase teve um ataque de nervos, primeiro por constatar que
engordara no mínimo quatro quilos, depois porque teria que recomeçar
o processo de busca. Controlou-se, conseguiu não chorar e agora
com muita pressa, revirou as roupas que tinha até encontrar alguma
que já não era tão perfeita, mas pelo menos parecia
adequada. Passou pela sala, colocou um cd romântico para tocar e desligou o interruptor principal, deixando o ambiente à meia-luz, para dar um toque a mais naquela noite especial. Dirigiu-se lentamente à porta, e tentando transparecer uma calma que não sentia, abriu-a. Pode ver então o seu esperado convidado, sua paixão. - Olá! Cheguei cedo? - Não. Bem na hora combinada. - Tu estás linda e a casa também com as flores e tudo mais. Dei-te muito trabalho? - Imagina, nenhum! |