CONFESSIONÁRIO
Vic Low
 

- Padre, eu pequei.

- Sim, filho?

- Não, o senhor não tá me entendendo... eu pequei a vida inteira.

- Somos todos pecadores, meu jovem, não há por que se preocupar com isso.

- O senhor também?

- O Senhor?

- Não, padre, o senhor, você...

- Também sou um pecador.

- É?! Que pecados o senhor já cometeu?

- Ah... Quando criança, eu era um perdido! Acredita que já cheguei até a... a... Mas isso é sua confissão, rapaz!

- Pôxa, padre, conta pra mim, vai... O senhor não está aqui pra aliviar minha culpa?

- Bom, não é bem para isso que estou aqui, só quem pode se livrar da culpa é você, eu só estou aqui para ajudá-lo a encontrar meios para isso.

- Então está aqui pra me ajudar a aliviar minha culpa...

- Pode-se dizer que sim. Sim, se isso faz com que se sinta melhor, é para isso mesmo que estou aqui.

- Pois é. Posso garantir que nada me faria sentir melhor do que saber que um homem santo como o senhor também cometeu seus pecados.

- Pecadilhos, meu filho, não vamos exagerar.

- Pecadilhos, que sejam. Mas eu também não pretendo usar batina e devotar minha vida a Deus, acho que meus limites podem ser um pouco mais flexíveis, não podem?

- Não é uma questão de limites. E certamente não é uma questão de comparação, seja com um homem santo, como disse, ou com qualquer outro. Você deve apenas buscar o caminho da virtude, apenas isso.

- Tá bem, eu entendo. Mas e os seus pecados?

- É sua confissão, rapaz. Devia deixar de se preocupar com os erros da minha juventude e me contar os seus pecados.

- O senhor sente alguma coisa quando alguém se confessa?

- Como assim?

- Não sei. Mas se alguém conta que traiu o melhor amigo, fica indignado? Ou se contam sobre algo, hmmm, luxurioso, o senhor se sente tentado?

- Sem blasfêmias, por favor.

- Desculpa...

- Mas, cá entre nós, não posso negar que algumas vezes ouço histórias que me surpreendem.

- É mesmo?! Por exemplo?

- Ah, não sei se devo... Você por acaso acha que isto é alguma brincadeira?!

- Não, claro que não. Achei que estávamos conversando...

- Não estamos. Se quiser conversar, pode me encontrar na sacristia outra hora. O objetivo aqui é absolvê-lo de seus pecados.

- Não é só Deus que pode fazer isso?

- Bom... é. Quer dizer... O que a gente faz por aqui é como se fosse um paliativo, entende? Até chegar a hora do Senhor julgá-lo.

- Acho que sim.

- Você não é católico, filho?

- Errr... não. Pensei que já tivesse dito isso.

- O que faz aqui, então?

- Minha tia-avó, sabe, é uma verdadeira beata - posso dizer isso, beata? De qualquer maneira... Ela tanto disse que meus problemas eram fruto de culpa e que eu deveria procurar uma igreja e me confessar e... Bom, aqui estou.

- Me desculpe, mas eu tenho que ouvir outras pessoas, preciso preparar a próxima missa. Vamos fazer assim: você volta na semana que vem, sem essas conversas, e eu ouço sua confissão. Parece bom?

- Pode ser. Mas e hoje? Vou sair sem nada?

- Mmmm. Reze três Pai-Nosso e duas Ave-Maria. Só para prepará-lo para a próxima semana.

- Tá bem, vou fazer isso. Mas...

- Sim?

- Como é mesmo a Ave-Maria?

 
 

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