JULGAMENTO
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E lá está ele, na frente do juiz confessando seu ato. Seus olhos demonstram imensa excitação com as imagens que acabaram de presenciar, tornando puníveis seus atos. As cenas do fato retornam a sua mente, lhe fazendo sentir nas entranhas o desconforto gerado pelo excesso. O cheiro de sangue ainda está em suas narinas, fazendo-o lembrar do ritual que se propusera a fazer e do rosto da dor de sua vítima. As palavras continuam saindo de sua boca, às vezes interrompidas pelo uivo que torna a voltar em sua mente. Um grito de dor, de desespero que apenas aqueles que estão à beira da morte conseguem fazer. A confissão não é apenas um pedido de perdão ao juiz, e muito menos um ato de penitência simplesmente. O real motivo dele se confessar é concretizar o que as evidências mostraram ao que agora julga. Ele sabe que seu ato merece uma pena severa, pois alimentar-se com seres da mesma espécie é algo condenável pelos homens. Mas eles não entendem o real sentido dessa sua atitude, isso não tem a ver com o entendimento humano. Quando suas palavras acabam, o ouvinte que até o momento tivera calado, lhe desfere algumas palavras. São palavras de dor de sofrimento, daquelas que trazem consigo todo o peso da perda. Nesse instante aquele que confessa cala-se numa manifestação de respeito, mesmo que não entenda o porquê de tanto sofrimento. O ouvinte se altera e num ato de cólera realiza um movimento com objeto cortante em direção ao corpo do que havia se confessado. A face do réu se transforma na da vítima e a do juiz na do réu. |