Quando
eu era criança,
Meninos
pulavam brejo. Meninas, amarelinha.
Meninos jogavam bola. Meninas, peteca.
Meninos cortavam o cabelo com máquina. Meninas usavam cachos e
laços de fita.
Meninos nadavam no rio. Meninas brincavam de ciranda.
Meninos tinham bola de pano. Meninas tinham uma caixa de sapato, berço
da boneca de trapo.
Meninos brincavam de pique. Meninas, de barra-manteiga.
Meninos fingiam ser cowboys. Meninas, mãezinhas de suas bonecas.
Meninos buscavam aviões no céu. Meninas, a lua e as estrelas.
Meninos atiravam aviõezinhos de papel na sala de aula. Meninas
aprendiam puericultura.
Meninos jogavam botão. Meninas passavam anel.
Meninos eram ases do pião. Meninas bordavam.
Meninos colecionavam figurinhas. Meninas, decalcomanias.
Meninos jogavam bolinha de gude. Meninas, pedrinhas.
Meninos empinavam capucheta. Meninas colhiam flores.
Meninos transformavam em violão, um pedaço de pau. Meninas
declamavam.
Meninos acreditavam no Peter Pan e no Capitão Gancho. Meninas,
em contos de fadas e príncipe encantado.
Meninos protegiam as meninas. E elas se sentiam seguras.
Meninos e meninas pediam a bênção para os pais, beijando
suas mãos e seu rosto.
Meninos e meninas ajoelhavam-se ao lado da cama, rezando ao Anjo da Guarda,
antes de dormir.
Meninos e meninas agradeciam ao Papai do Céu por mais um dia...
Quando
eu era criança,
Não
existia brinquedos com pilhas e baterias, nem televisão, nem computadores.
Não
existia drogas, seqüestros, armas ao alcance dos pequenos.
Não
existia virtualidade e era possível sempre se ver o sorriso, a
lágrima, a alegria, a tristeza. E um beijo tocava a pele, o coração,
a alma.
As
palavras e sentimentos não eram mal interpretados, porque os olhos
denunciavam sua veracidade.
Cartas
eram sempre recebidas e respondidas com alegria, porque, de alguma forma,
minimizavam a saudade.
Quando
eu era criança,
Eu
queria crescer para entender um mundo de coisas que até hoje eu
não entendo.
Talvez
ainda exista essa criança dentro de mim...
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