Confesso
que sonhei ser um filósofo,
Um grande pensador da humanidade
A explicar seus medos e desejos,
Desmistificar todas as coisas,
Com sabedoria apontar o destino.
Mas limitei-me a apenas suportar
Os acidentes da vida.
Então
sonhei ser um teólogo.
Deus é mais simples que a humanidade.
Ler as mensagens do cosmos
E alertar sobre o caminho...
Mas me disseram que era vão,
Pois muitos não acreditariam em mim,
Sequer acreditam nos desígnios Dele.
Sonhei
ser um sociólogo,
Um grande estudioso da sociedade,
A pensar a irmandade dos homens
Num mundo de disputa e vaidade.
Mas encontraria cortinas de ferro
A barrarem a fome fora dos depósitos.
Melhor faria um biólogo rodeado de lobos
A estudar a simplicidade de irracionais.
Tentei
então ser um historiador,
Um simples narrador do passado.
E preservar o presente, eternizá-lo
para o aprendizado do porvir.
Muitas seriam as agruras do descobrimento,
Revelações tristes de um velho mundo,
Imundo, maculado, sem futuro.
Embebedaria-me em páginas de mofo,
De sangue e desgosto.
Confesso
que sonhei muito,
Invejei o intelecto de tantos
Que da altura de púlpitos
Falaram aos homens como profetas.
Só
restou-me os sonhos da palavra.
E, sem pensar, tornei-me poeta.
Poeta não pensa, não fala, só sonha,
Senti e dá forma no verbo.
O poeta não estuda o coração,
Não cultua a razão, traduz seu devaneio
Em linhas traçadas de bem-querer.
Tornei-me este pensador menor,
Sem o iluminismo da ciência.
Fiz-me poeta por incompetência,
Limitado às paixões dos dias,
Assombrado com as utopias da consciência.
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