NÃO CONFESSO
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Eu não confesso! Não confesso que traí porque me apaixonei e me senti com quinze anos a menos do que eu realmente tinha. Senti-me desejada, fui querida, fui beijada, fui literalmente encantada e excitada. Tive quem me ouvisse, quem dividisse um vinho, quem compartilhasse a solidão. Alguém que jamais confessaria qualquer coisa, muito menos um romance, muito menos comigo. Não confesso que gozei dos prazeres de ter um caso e que sonhei com um pedido de casamento que não veio. Em verdade eu de maneira alguma poderia aceitaria, mas ainda assim sonhei com ele, da mesma forma que sonha a personagem central de uma peça romântica, divaguei dia após dia, noite após noite sobre a idéia. Também não confesso que sonhei e realizei amar ao som de "Epitáfio", por três ou quatro horas seguidas, até que o parceiro a cantasse, como se ela sempre tivesse existido e fosse a trilha sonora dos momentos mais felizes de sua vida. O momento de amor inesquecível sempre encontra espaço ao lado do amado. E eu jamais confessarei que fiz dos ossos um pulmão, para estar ao lado dele. Noites de chuva, dia do combate ao fumo, perna quebrada, travesseiro no chão do carro, à vontade de estar juntos, derramar licor de chocolate, mel de abelha ou penetrar na banheira pré-invadida por pétalas de rosa na cor vermelha. Tudo se tornava efêmero, diante da necessidade real e fiel daqueles corpos que se queriam, que precisavam um do outro. Inconfessável! Momentos que vivem apenas e não obstantes sobrevivem, quase que sufocados pela negação do dia a dia, na saudade das mentes que muitos dias estiveram presentes nos momentos sublimes do passado. Ser, estar, querer e não poder, é algo que não se confessa, mas que vale a pena viver. |