SOMBRAS
Daniela Fernanda
 
 

De repente se entra no escuro e sente-se medo.

Medo do lobo, porque ele é mau, da bruxa com suas poções mágicas, da mula sem cabeça, do fantasma translúcido, dos duendes que vivem nas florestas e bosques, do enorme dragão dos contos de fadas.

Sente-se medo da solidão, porque é calma, triste, silenciosa e cheira a cinza. Da morte que é misteriosa, do caixão duro e impessoal , da transição que se desconhece, do momento que não se viveu, da dor que vai além do dente, dor que já se sentiu.

De repente se encontra no escuro e se arruma, e se enfeita, se sente belo e lépido. Sai de casa, cai na balada. Fala alto, bebe, dança e dá risadas. Ama no escuro, a qualquer momento, qualquer um. Se solta no quarto, no bar na rua ou no motel.

O escuro é de gritos silenciosos, de percepção ausente, de bocas que ouvem outras bocas, de fome de drogas, de caminhos sem volta, de silêncio ruidoso...

Mas o escuro não está ali. No âmago o que ali está, é apenas a ausência da luz.

 
 

email do autor