A MENINA DO VESTIDO VERDE
Tatiana Alves
 

A menina entrou na floresta com o seu vestido verde. Era, sem dúvida, a sua cor favorita. Mistura perfeita do azul do céu com a luminosidade de um dia ensolarado. Via verde por toda parte: nos olhos da mãe que morrera, e, quando a saudade se revestia dessa cor, parecia ficar mais suportável. Mirava os campos verdejantes, e o mundo parecia não ter fim. Olhava o mar em certos dias - tudo bem, em alguns ele era azul, mas nesses ela nem prestava muita atenção. Até os marcianos são verdes - defendia ela -, arrancando gargalhadas dos adultos.

O que havia de mais interessante naquela menina era o fato de ela possuir um olhar diferente sobre o mundo. Como uma ostra, tinha o poder de transformar o sofrimento em pérolas, e jamais perdia a alegria de viver. Contagiava quem dela se aproximasse, e irradiava uma luz inigualável. Todos gostavam de estar ao seu lado, embora não soubessem explicar o porquê.

O menino corria, a esmo, pelo bosque. Não se tratava de nenhuma brincadeira ou travessura, mas do pavor que sentia diante de lugares abertos. Sua roupa era branca e parecia indicar sua atitude perante a vida: tudo lhe parecia tão sem sabor, que ele se mantinha apático, estático. Numa ocasião como essa, em que tudo lhe escapava ao controle, sua tática era fugir.

Como era de se esperar, o menino acabou se perdendo na floresta. Foi então que a avistou. Meiga, porém decidida, corria alegremente por entre as árvores, e o ritmo de seus passos denotava firmeza, e não medo. Escondendo-se atrás de uma árvore, invejou profundamente a alegria que a menina demonstrava e observou-a. Ela bailava, como uma fada-mirim, entre as flores, cantarolando suavemente.

Mas o medo do menino não foi maior do que a sua curiosidade. Aproximando-se um pouco mais, acabou sendo visto pela doce menina do vestido verde. E ela não se fez de rogada: também chegou mais perto, abrindo um sorriso. Sabia qual era o seu papel na vida daquele menino. Sempre soubera. Num gesto tantas vezes repetido, estendeu-lhe as mãos, e sorriu novamente. O menino imitou o gesto, chorando convulsivamente.

Nesse momento, o mundo ganhou novas cores, bem como a vida daquele menino. Ele sabia que, a partir de então, estaria forte, mesmo que estivesse sozinho. Quanto à menina, partiu, para ajudar outras pessoas mundo afora com seu vestidinho verde. Seu nome? Esperança.

 
 

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