OLHOS VERDES
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Olhos Verdes. Aqueles olhos verdes me fascinavam. Brilhavam em minha direção. Eles me intimidavam, me provocavam, me entonteciam, me perseguiam, me encurralavam, me venciam. Os olhos dele cruzaram com os meus - que são belos olhos castanhos-esverdeados - numa esquina do interior de São Paulo. Eu estava quieta em meu cantinho, realizando meu serviço rotineiramente, quando aquelas duas esmeraldas iluminaram a minha mesa. Eu trabalhava na cobrança e ele foi efetuar um pagamento da empresa do pai dele. Fiquei sem ação quando ele perguntou meu nome. O efeito daqueles olhos era tão grande que não conseguia nem pronunciar meu nome. - É Ju-ju-lia moço! - Nome diferente, Jujulia. - Não! Desculpe a pronúncia ruim. É Julia. - Belo nome. É o nome da minha sobrinha. - Quantos anos ela tem? - Sete e é muito esperta. Fico bobo com as peripécias dela... - Hum! Que gracinha ela deve ser! - Qualquer dia eu a trago para te conhecer. Obrigada pelo pagamento do tributo. - Ah! Vai ser um prazer! Até logo. Fiquei pensando nele a semana toda. Não via a hora de chegar o próximo dia quinze para rever aqueles belos pares de olhos. Mas no dia do vencimento do próximo tributo ele não apareceu. Sua mãe foi em seu lugar. Tentei puxar conversa, porém a mulher não deu muita trela. Todas perguntavam de seu filho e ela estava cansada de ouvir sempre a mesma ladainha. Tentei contornar a situação arrastando o interesse da conversa para a minha xará ''a sobrinha do moço de belo olhos'', mas com pouco sucesso. A mulher estava convencida de que o interesse na neta era apenas um pretexto para chegar no filho. Então, levantou apressadamente e partiu. Mas deixou sua carteira para traz. Corri até a portaria e, para minha surpresa, os ''Olhos Verdes'' estavam de volta. Ele foi buscar a mãe com uma linda menininha. - Oi Julia! Tudo bem com você? - Tudo ótimo! - Lembra da minha sobrinha que eu te falei? Olha ela aqui, a sua xará. - OI Julia. Tudo bem com você? - Tudo. Quem é você? - Eu sou a Julia. - Você tem o nome igual o meu? Que legal! - Acho que ela gostou de você. Também, quem não gostaria... Corei e não conseguiu esconder a vergonha de ter recebido um elogio. Fiquei sem ação. Mas a mãe dele resolveu atrapalhar. - Junior vamos embora! - Sim, mamãe! Já vamos. Foi um prazer revê-la. Nos vemos em breve. - O prazer foi meu. Volte sempre. E então, aqueles olhos grandes fizeram um aceno charmoso e e eu quase desmaiei de emoção. Passaram alguns meses e eu nunca mais havia cruzado com aquele moço. Mas, numa bela manhã de primavera o encontrei no parque com a pequena sobrinha. - Oi Julia. É legal ter alguém com o mesmo nome. - Eu gosto muito do nosso nome. - E eu também - disse Junior. - Vocês dois estão passeando? - É, eu adoro sair e brincar com minha sobrinha. Já que eu não tenho meus próprios filhos... - Ah! Mas você ainda é novo para pensar em filhos. - Julia, meu sonho é ter minha família. Quero muitos filhos. - Mas você vai encontrar alguém especial. - Mas eu já encontrei. - Você não pode estar falando sério. - Essa foi à coisa mais séria que eu já falei. Casamos e, depois de trinta anos, meu neto perguntou, um dia desses: - Vovó, o que fez você se apaixonar pelo vovô? - Meu filho, eu gosto de tudo no seu vô, mas o que me convenceu foi o embalo dos olhos dele. Nunca vou esquecer aqueles dois faróis que iluminaram toda a minha vida. Olhos inquietantes. Olhos verdes. |