ENCONTROS E DESENCONTROS
Adriana Vieira Bastos
 
 

Jonas, no restaurante, verde de fome, com a garrafa de vinho já no final e desconfortável pelo olhar curioso do garçom, esperava Marta há mais de duas horas, na esperança de colocarem um ponto final naquela história sem pé nem cabeça.

Marta, no seu quarto, vermelha de raiva, transitava sem saber que rumo tomar. Devia ou não render-se ao desejo de reencontrá-lo? Ela o amava! Não havia como fugir deste sentimento. Mas será que não estava indo longe demais por causa do amor? Como Andréia sempre lhe dizia: como esperar que o outro a respeitasse, se ela mesmo não se respeitava?

Jonas, cansado de tanto esperar, sentindo-se tolo, lembrou-se do quanto Andréia tentara dissuadi-lo a promover este encontro. Quem sabe estava certa? Talvez não fosse ainda o momento de sentarem para conversar.

Marta, pronta, porém indecisa, resolve, antes de sair, ligar mais uma vez para Andréia, pois ninguém a entendia como ela.

- Acho que vou.

- Se fosse você, não ia. Você sabe muito bem como ele é. Vai te enrolar mais uma vez com aquele "papinho meloso" e, como também te conheço bem, vai acabar caindo na dele. Se bem que você é quem sabe. Só não vá dizer que não avisei. Se está disposta a bancar a ridícula e ficar sofrendo por alguém que não te merece, vá em frente. Como sua melhor amiga, só gostaria que pensasse : será que vale a pena sofrer tanto assim por um homem?

Era o que precisava ouvir. Cansada, e com mais raiva ainda, tirou a roupa, desligou o celular e pôs um fim naquela estória que deveria ser a estória de sua vida, se não fosse a insensatez de Jonas.

Jonas, já quase pedindo a conta, não resistiu e ligou à Andréia.

- Desculpe-me estar te ligando, mas você falou com Marta?

- Olha, Jonas, sou amiga de vocês dois, gosto muito da Marta, por isso mesmo prefiro ficar na minha.

- Não quero te deixar constrangida, mas eu só queria conversar.

- Por isso mesmo, Jonas, acho você um cara muito legal. Não acho que merece passar por esta situação. Se ela te amasse tanto quanto diz, deveria ter o mínimo de consideração contigo e não te deixar plantado aí? Será que vale a pena sofrer tanto assim por uma mulher?

Era o que precisava ouvir. Andréia tinha razão. Como pensar numa vida com uma mulher intransigente, egoísta, que não lhe dava a oportunidade de se explicar. Isso sem contar que nem sabia do que tinha que se defender.

Irritado, chamou o garçom, pagou a conta, foi para o escritório e aceitou a oferta da transferencia de cidade. Separou as coisas de Marta, enviou-as pelo correio, colocando um ponto final numa estória que, se dependesse dele, teria tudo para ser feliz, se não fosse a insensatez dela.

Bem, assim pensaram durante dez anos, até o dia em que se reencontraram por acaso e, embaraçados, porém, curiosos, não resistiram e se perguntaram o porquê de não terem ido ao encontro que daria um rumo a vida deles.

Atônitos e brancos com a armação de Andréia, confidenciaram-se que acabaram aceitando o conselho dela, de não se curvarem um ao outro. Afinal, magoados e inflamados como estavam, não foi difícil concordar que "nenhum homem ou mulher merecia tamanho sofrimento".

Num primeiro momento, precisaram se conter. A vontade que tinham era de deixar Andreia roxa pelos tapas que merecia, e seriam bem dados, mas, depois de muito conversarem, reconheceram terem permitido esta invasão. E deu no que deu!

Frustrados pelo tempo perdido, e alegres pela chance do recomeçar, chegaram a uma conclusão em comum - nem tudo que parece claro é tão claro quanto parece!

 
 

email do autor