MULHER, TABACO E CERVEJA
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Praça da Savassi, 19:30. Tereza está à espera de Fernando. Combinaram um encontro ali, às 19:00. Teresa, sentada num banco, espera por Fernando. Ela ainda não sabe, mas nunca mais o verá. O motivo do sumiço nunca soube, ou nunca saberá. É verdade que o relacionamento já vinha se desgastando: muitas brigas, pouco sexo, nenhum carinho. Foi melhor assim - pensaria alguns meses depois. Olhou o relógio do outro lado da rua: 19:45. Só esperaria mais alguns minutos. Espiou a bolsa que trazia pra ver se tinha algum cigarro. Não tinha. Uma moça passou. Fumava. Pediu-lhe um cigarro. Voltou a esperar. Olhou o céu. Conseguiu divisar algumas estrelas quase apagadas. Essa droga de se morar numa cidade grande, nem as estrelas podemos ver - pensou. Parou de pensar. Ficou observando o movimento dos carros, das pessoas, o zum-zum-zum das conversas. 20:00. De repente notou que fizera papel de otária. Estava ali, há mais de uma hora, plantada, esperando. Deu uma tragada no cigarro e desejou nunca mais ver aquele homem. E que todos os outros fossem para o inferno - concluiu. Ia se levantando, decidida a ir embora, quando notou algo particular naquele vai-e-vem de pessoas. Deteve-se um momento para observar melhor e pode constatar, perplexa, o que presumira. Na praça e nas ruas à sua volta; nos carros que passavam a todo momento; nas mesas dos bares próximos; em todos os lugares, só havia mulheres! Isso mesmo, não avistara nenhum homem: nem velho, nem novo. Ficou abismada. Levantou-se. Saiu caminhando, sem rumo. Passou em frente a um bar e entrou. Muita gente se espremendo em pouco espaço, mas só mulheres. Buscou o banheiro. Ficou mais estarrecida ainda quando notou que só havia um banheiro. E tinha chuveirinho e bidê. Meu Deus, onde estão todos os homens? Será que foram mesmo para o inferno? - indagou. Voltou para o bar e sentou-se numa mesa há pouco ocupada. Pediu uma cerveja. A garçonete trouxe. Interrogou-a: - o que aconteceu a todos os homens? A jovem olhou-a com um olhar estranho: - Homens? Como assim? Desistiu de tentar explicar. Alguma coisa louca estava acontecendo, mas somente ela notara. Tomou a cerveja e foi para casa. Ligou para Liliane, sua colega de trabalho. A mesma reação da garçonete. Tentou se lembrar dos momentos anteriores à praça. Nada. Nenhuma lembrança. Ligou a tv para ter certeza de que aquilo era coisa de sua cabeça. Buscou o canal da novela. Para seu espanto, nenhum homem. Não era possível! Nenhum homem na novela? Decidiu ligar para Fernando. Acabaria de vez com aquela loucura. E resolveria sua vida amorosa. Uma mulher de nome esquisito atendeu. Nenhum Fernando. Desligou. Uma dorzinha fina surgiu-lhe sobre as têmporas. Foi até a cozinha. Tomou um copo d'água. Voltou para a sala e desligou a tv. Deitou-se no sofá. Adormeceu tentando lembrar-se novamente dos fatos anteriores ao ocorrido na praça. Acordou - no outro dia - com o barulho do alarme do relógio do vizinho. Levantou-se. Tomou uma ducha. Vendo sua imagem no espelho, lembrou-se do dia anterior. Correu para a tv. Ligou-a. Lá estava o noticiário, com os apresentadores de sempre. Tudo havia voltado ao normal? Olhou pela janela. Homens iam e vinham de todos os lados. Teria sido um sonho? Não. Parecia ter sido tão real! Foi para o trabalho. Somente mais tarde deu-se conta da data do dia anterior: 8 de março. Teria sido um desejo realizado? Não sabia. À noite foi ao apartamento de Fernando, procurá-lo. Disseram-lhe que ninguém, com aquele nome, havia morado ali nos últimos cinco anos. |