À MELHOR, MULHER
Edison Veiga Junior
 
 

Respeito o teu silêncio mesmo quando ele quebra as bordas de meu âmago. Ele chega devagarinho e vai dormindo, é um verso avesso, é uma lembrança triste. Respeito o teu silêncio assim como respeitas minhas lágrimas, minhas rimas, meus desencantos.

Mulher: cose a minha vida para eu me perder nos teus braços!

Mulher: deslumbra-te em meus sonhos para que eu persiga os teus rastos!

Mulher: não somes, pelamordedeus, pelamordemeuspais, pelamor...

Caminho ao teu lado, mesmo que não me perceba. Quando precisardes de um sorriso, solicita-me; um carinho, um afago, um senão, um talvez, sempre cá estarei. Sou tua sombra, sou teu ventre. Sou teu amante e teus sapatos, tuas chaves e teu amparo. Sou tua muralha, teu pedágio; mas também sei ser portal, pernas e janelas. Sou ponte.

Meu coração palpita, ausculta-me; sou tua desinência verbal, teu ventre grávido, teu marido vivo, teu presente. Sou tua companhia inclusive na solidão e prometo sempre ser a luminescência exata dos teus pensamentos escuros e obtusos.

Às vezes acordo com uma vontade incrível de ser, para sempre, o brilho de teus olhos ou mesmo o cantinho inconfundível do teu sorriso sincero. Tem outros dias que o mau-humor nos domina e o mundo parece errado e o sol não tem graça nem a música que estou ouvindo. Mesmo assim, quero-te ao meu lado, e é injusto demais essa distância absurda que nos lacuna.

Procuro-te nas estrelas mais distantes e me dá um frio na barriga lembrar que elas já não estão mais. Fico preocupado com essas ausências e, se pego o telefone, não é para importunar-te nem nada; é para sossegar-me com a certeza de que não és tão estrela a ponto de extinguires-te.

Encontro-te num quadro de Monet, míope que sou. Depois viras a nitidez de uma fotografia bem tirada e assolas meu sentimento. Encontro-te numa carta de um ano atrás. Encontro-te nos e-mails velhos que tanto necessito.

Encontro-te. E cada vez com mais certeza, meu peito exclama:

- Minha mulher, sou-te.

 
 

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