A CAMINHO DA ETERNIDADE
Virgínia Círchia Pinto
 

Nesta manhã dois amigos conversavam sobre as dificuldades recentes que tiveram, um com uma cirurgia da mãe e a outra com a doença do pai. Segundo ambos, se depararam com o medo paralizante de perdê-los e esta possibilidade trouxe-lhes fragilidade... "a gente se esquece de ser gente, de ser fraco, de pedir arrego, de cair de joelhos, de mostrar os medos, de chorar".

Comecei a refletir sobre o assunto.

Tabus. Quando sentimos medo de algo desconhecido, mergulhamos em absoluto silêncio e o sofrimento passa a permear nossa vida. Isto se dá por que achamos que não falar sobre um determinado problema irá nos afastar dele. O ser humano está cada dia mais calado e sozinho. Muitas vezes o simples fato de falarmos o que estamos sentindo alivia a alma e acalma nosso espírito. Porém, abrir o coração e se mostrar fragilizado nem sempre é adequado, pertinente ou tolerado pelos que nos cercam.

Há muitos anos, quando minha mãe adoeceu, comecei a me descobrir humana e quando a perdi, encontrei a alma da vida. Por mais anos que eu viva, jamais esquecerei o que senti no momento em que soube do diagnóstico dela, pois naquela época ter o diagnóstico de câncer era uma sentença de morte. Convivi muito tempo com a presença da possibilidade de morte súbita dela. Anos difíceis, mas de infinito aprendizado.

Quando ela partiu me deixou alegria de viver e perseverança na adversidade. Desenvolvi uma sensação de urgência para tudo. Viver, conviver, amar, compartilhar, cultivar a vida e aprender a ser feliz.

Ano passado adoeci. Fui submetida a um tratamento oncológico. Em momento algum me desesperei. Todas as dificuldades que encontrei foram superadas pelo amor que eu sentia das e pelas pessoas que estavam ao meu lado. Dias difíceis novamente, mas a vida prevaleceu sobre tudo.

Aumentei laços, redescobri novas formas de estar feliz. Perdi o medo de morrer e de perder os que amo. Aprendi que não temos domínio sobre nada e que a vida está repleta de coisas que não vemos e precisamos passar a ver. Urge-se aumentar o foco para o que temos e minimizar o mesmo foco para o que não temos!

A vida tem um fluxo. - Você já ouviu o pulsar dele? Preste atenção desde o momento em que você acorda existe um ritmo. Ela ( a vida) nos mostra o caminho a seguir o tempo todo. Harmonia interior é um estado de graça que sentimos quando seguimos o ritmo dela. No exato momento em que perdemos nossa paz interior é por que perdemos a capacidade de ouvir o som da vida.

Esta semana fui ver a peça Gandhi. De todas as inúmeras palavras que ele fez calar em meu coração, ficaram estas:

- O amor cura, o amor entusiasma, o amor supera, o amor une...

O amor nos aproxima do semelhante e o torna amigo. Hoje, meu amigo teve muito medo de perder sua mãe, mas tudo passou quando se lembrou "que também sou gente, sou fraco, humano, falível, perecível, vencível, finito" e ao me ver nele senti o quanto somos iguais a caminho da eternidade...

 
 

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