Nesta
manhã dois amigos conversavam sobre as dificuldades recentes que
tiveram, um com uma cirurgia da mãe e a outra com a doença
do pai. Segundo ambos, se depararam com o medo paralizante de perdê-los
e esta possibilidade trouxe-lhes fragilidade... "a gente se esquece
de ser gente, de ser fraco, de pedir arrego, de cair de joelhos, de mostrar
os medos, de chorar".
Comecei a refletir sobre o assunto.
Tabus. Quando sentimos medo de algo desconhecido, mergulhamos em absoluto
silêncio e o sofrimento passa a permear nossa vida. Isto se dá
por que achamos que não falar sobre um determinado problema irá
nos afastar dele. O ser humano está cada dia mais calado e sozinho.
Muitas vezes o simples fato de falarmos o que estamos sentindo alivia
a alma e acalma nosso espírito. Porém, abrir o coração
e se mostrar fragilizado nem sempre é adequado, pertinente ou tolerado
pelos que nos cercam.
Há muitos anos, quando minha mãe adoeceu, comecei a me descobrir
humana e quando a perdi, encontrei a alma da vida. Por mais anos que eu
viva, jamais esquecerei o que senti no momento em que soube do diagnóstico
dela, pois naquela época ter o diagnóstico de câncer
era uma sentença de morte. Convivi muito tempo com a presença
da possibilidade de morte súbita dela. Anos difíceis, mas
de infinito aprendizado.
Quando ela partiu me deixou alegria de viver e perseverança na
adversidade. Desenvolvi uma sensação de urgência para
tudo. Viver, conviver, amar, compartilhar, cultivar a vida e aprender
a ser feliz.
Ano passado adoeci. Fui submetida a um tratamento oncológico. Em
momento algum me desesperei. Todas as dificuldades que encontrei foram
superadas pelo amor que eu sentia das e pelas pessoas que estavam ao meu
lado. Dias difíceis novamente, mas a vida prevaleceu sobre tudo.
Aumentei laços, redescobri novas formas de estar feliz. Perdi o
medo de morrer e de perder os que amo. Aprendi que não temos domínio
sobre nada e que a vida está repleta de coisas que não vemos
e precisamos passar a ver. Urge-se aumentar o foco para o que temos e
minimizar o mesmo foco para o que não temos!
A vida tem um fluxo. - Você já ouviu o pulsar dele? Preste
atenção desde o momento em que você acorda existe
um ritmo. Ela ( a vida) nos mostra o caminho a seguir o tempo todo. Harmonia
interior é um estado de graça que sentimos quando seguimos
o ritmo dela. No exato momento em que perdemos nossa paz interior é
por que perdemos a capacidade de ouvir o som da vida.
Esta semana fui ver a peça Gandhi. De todas as inúmeras
palavras que ele fez calar em meu coração, ficaram estas:
- O amor cura, o amor entusiasma, o amor supera, o amor une...
O amor nos aproxima do semelhante e o torna amigo. Hoje, meu amigo teve
muito medo de perder sua mãe, mas tudo passou quando se lembrou
"que também sou gente, sou fraco, humano, falível,
perecível, vencível, finito" e ao me ver nele senti
o quanto somos iguais a caminho da eternidade...
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