BAILAR ETERNO
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Dançar, dançar...Ainda que soubesse ser essa a sua vida, algumas vezes perdia-se nas fronteiras entre o desejo e a obrigação, especulando se não seria verdadeiramente escrava daquilo que fora, outrora, seu maior prazer. Os pés doíam-lhe, e ela sequer se lembrava de algum dia não ter rodopiado ao menor sinal de música. Impassível, como se as graciosas piruetas não lhe crucificassem os pés, suplício maior da vida que levava. Mas não devia pensar. A música recomeçava, e lá estava ela a bailar, irretocável, irrepreensível... Como seria o mundo sem música, sem o oxigênio que a alimentava? Talvez fossem necessárias outras vidas para que ela pudesse responder a tantas perguntas. Sua vida era glamourosa, porém solitária, e ela vagava no infinito do não-saber, motivada pelas cavalgadas e interlúdios tocados ao sabor de outrem. Dançava, sem escolha, movida pela vontade alheia. Girava cada vez mais, embalada pela melodia, na esperança de que sua dedicação comovesse a platéia, que então a deixaria livre. Fuga? Somente a da sonata que a hipnotizava. Era impossível fugir, pois era impossível viver além dos limites do lugar em que se encontrava. Já havia sido esquecida uma vez, e a escuridão lhe fora insuportável. Mas não havia tempo para pensar. A caixinha fora novamente aberta, e a ela somente restava dançar com perfeição, na tristeza do bailar eterno. |