SE
Márcia Ribeiro
 
 

Se eu não fosse presa a tanto juízo,
Dando tantos motivos à razão
Aceitando os medos de ceder
Não precisaria calar os meus versos
Nem silenciar meus desejos
Muito menos manter-me longe de ti

Se eu não fosse tão covarde,
Insistindo na lembrança de quem és
Dominando a saudade de tua voz
Não precisaria esconder a palavra
Quando, muda, disfarço a emoção
Fazendo-me de surda ao sentir o teu pedido

Se eu não fosse tão tola
Guardando um tempo em vão
Soluçando as vezes que não fui
Não precisaria me guardar em solidão
Nem me afugentar no anonimato
Criando a ilusão de não sentir

Se eu não fosse uma mulher
Seria uma loba, a uivar por tua Lua
Uma nota, a bailar na tua canção
Gotas de chuva, a molhar a tua face
Uma constelação, a indicar-lhe a direção
Ou, quem sabe, uma menina nos teus braços

Mas não sou o que de mim esperas
A que rompe barreiras, cresce e lateja
Roubando a cena dos ventos e furacões
Rasgando as sedas em manhãs incertas
Tombando conceitos e crenças, jamais
Seduzindo, ingênua, tua louca generosidade

Sou apenas uma rosa
Fugindo do rumo incerto
Reencarnando a certeza de mim
Sombreando teus passos aos meus
Cobrindo as noites de novos sonhos
Fazendo dos meus dias uma eternidade

 
 

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