A FESTA DO CÉU
Ana Terra
 

Fui chamada para uma festa. O convite veio pela mídia. Durante dois dias noticiaram o eclipse lunar na madrugada do dia 15 de maio de 2003.

Não precisei de preparativos para o espetáculo. Vasculhei o armário e encontrei um binóculo velho e gasto que foi de meu pai. Com um pano velho, fiz uma limpeza completa. As lentes tiveram um com cuidado especial.Ansiosamente esperei pela hora marcada.

Vinte e duas e trinta. Horário previsto. Olhei a noite clara e lá estava a Lua Cheia. A mesma Lua de todos os tempos. A Deusa dos Antigos. A grande "conquista" da humanidade do século passado.

Os minutos passaram. O céu pontilhado de estrelas. Todas convocadas a comparecerem à festa.

Meus olhos já ardiam quando vi uma minúscula "mordida" no astro iluminado. O Asteróide em que vivemos resolveu passear. E no seu caminho estava a Lua. Sem escrúpulos e sem pedir licença, ele começava sua travessia.

Não sei a origem do nome da minha "casa". De onde será que saiu a palavra Terra? Deveria ser: Onde Estou? O que é Isso? Mas esta curiosidade não importou naquele momento.

O primeiro passo foi dado. Uma manchinha escura encobriu a Lua. Mas, bem lá no cantinho, ela deixou um fio de luz prateada, talvez querendo dizer: ainda estou aqui.

A lenta caminhada continuou. Vi na treva o mistério.

As estrelas, talvez inconformadas com a escuridão, aumentaram seu brilho. Chamaram outras e mais outras. Luzes e mais luzes. As nebulosas, com suas estrelas pequenas e tímidas derramaram suas névoas por todos os lados. Talvez disseram: nós existimos também. Somos bilhões, trilhões, mas permanecemos no anonimato. E neste momento estamos aqui, assustadas com o sumiço da Lua.

Nuvens quase transparentes, empurradas pelo vento, passavam rapidamente em frente à Lua escura.

Um cometa curioso e apressado riscou o céu. Sentiu que não era hora de passear e rapidamente tomou seu rumo.

À medida que a escuridão tomava conta da Lua, as estrelas dançaram lentamente. Movimentos delicados e silenciosos. Subiam e desciam.

Antes que o nosso pequeno Asteróide terminasse seu passeio, as trevas ganharam cores. Indefinidas: vermelha, cobre, marrom, preto? Uma mistura exótica.

Fascinada, olhava aquele astro colorido no céu. As nebulosas e as estrelas faziam a festa.

As nuvens, mais espessas, ganharam um halo dourado.

Já era madrugada quando a Terra terminou sua caminhada. Aos poucos as cores da Lua foram desaparecendo e a luz prateada voltou. As estrelas e as nebulosas, respeitosamente, diminuíram seu brilho.

De repente, grossas nuvens encobriram a lua. A cortina do palco estava sendo fechada. Rapidamente a lua desapareceu, mas deixou vestígio. Como um holofote mágico, o branco das nuvens ganhou uma luz dourada.

Neste instante eu me encolhi. Vi minha insignificância diante do Universo. Um grão de areia.

Um grão vivo. Pulsante. Que vive na mais completa cegueira. E a Natureza, em poucas horas, me proporcionou uma lição de eternidade.

Sei que não vou ter oportunidade para participar de outra festa igual. Mas não tem importância. A essência ficou.

 
 

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