UM BRINDE E UMA UNIÃO
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Suzana Garcia
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Entre garrafas de vinho caídas no tapete, restos de uma vida , achei minha taça. Havia uma gota, uma única gota daquele vinho seco,encorpado, mas que deixou um suave gosto de se ter vivido. Não havia mais nada, a adega estava vazia, nem um real na carteira, nem emprego, nem alguém que pudesse ajudar. Ultima gota, ultima saída. Catarse. Deitei sob o tapete, chutei as garrafas, presentes de amigos dos tempos áureos, quando se esta por cima a adega esta sempre cheia, e repassei cada minuto de nossas vidas .Sim, a minha e a sua. Cheia de desencontros, palavras " mal ditas" ou ditas corretamente e mal interpretadas. Revi seus bilhetes e cartinhas de amor, numa delas ,até um auto-retrato . Ultima gota. Revi as intrigas, as histórias contadas a terceiros. Lembrei-me de seu travesseiro, dentro da mala no meio de vários papéis. Primeiro ato. Fotos, várias, mas todas em pose. Nenhum flagrante. Talvez seja esse o segredo. Até então, você não podia ser flagrado. Eu não sabia. Cega de paixão de corpo e copos me protegi. Escondi meus sentimentos. Lá, bem atrás das palavras cruéis.Ao lado da ausência e de frente ao amor. Paisagem maravilhosa em dias de chuva. Só não via quem não queria. Resta-me agora uma ultima gota que deverá saciar todos os hiatos dos dias não degustados. |