CORPOS AO CHÃO
Jacimara Lourenço Tenório
 
 

Ao caminhar pelas ruas da cidade, o céu iluminado pela lua cheia e repleta, meus pés perdidos, minha mente vazia. Já não sei quais palavras dizer, perdi há tanto tempo a sensatez... As mesmas palavras, os mesmos atos, a mesma mesa.

A garganta seca e o pensamento confuso, mistura igual à de cachaça, limão e açúcar: desce doce, embriaga e entorpece os sentimentos. Sento e delicio-me no vai e vem de copos, copos enchendo-se, copos esvaziando-se, solidão fugindo em novas buscas, tédio rompendo e rasgando dentro.

De repente, rompe-se o silêncio, as palavras que outrora morriam dentro de mim, vieram à tona, palavras ocas, sem nexos e flexos. De que adianta gritá-las ao vento se não há ouvintes que as entendam. Só eu sei a dor que sinto, a distância que amarga, descontrola; os sonhos jogados ao léu, vida vivida por outra... Por que ninguém consegue ver que todas as paredes dessa vida foram construídas por mim e que ninguém poderá viver aquilo que me pertence. Não se vive a vida dos outros, ninguém pode tomar por seu, aquilo que pertence a outro, ninguém, entende?

A mente descontrolada, a falta de força nas mãos, o copo que cai, estilhaços de vidros que se esparram pelo chão, de que adianta recolher os restos se depois que estão em cacos não há nada o que fazer, não tem mais conserto. Assim como não tem conserto uma vida vazia.

Copos ao chão.... Corpos em cacos...

 
 

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