CORPO FRÁGIL
Gaby Marques (Husky)
 
 

Os dias estavam passando e eu nem os sentia. Não tinha nem tempo mais para me irritar com as segundas-feiras. Estava esgotada demais. O tempo estava acelerado, meu corpo quebrado, cheio de estilhaços e eu colava um pedaço aqui, outro acolá, mas tudo remendado e prestes a desmanchar. Parecia aqueles barbantes de pipa com cacos-de-vidro - ao mesmo tempo que se tornavam perigosos, eram frágeis.

Era assim que me encontrava, frágil, no entanto, podia facilmente machucar alguém. Não que eu quisesse. Era um ato involuntário de intolerância, estresse. Era como se uma força muito maior que eu - e olha que eu sou grande - sugasse minhas energias, deixando o pior de mim. E eu sempre detestei magoar as pessoas. Precisava mudar aquela situação.

Entre uma aula e outra de criação e produção de audio-visual, entre várias sugestões de filmes, o professor recomendou um que tinha seis finais diferentes. Apesar do título não ser muito chamativo, aceitei a sugestão.

Para minha surpresa, o filme foi ótimo. Além de compreender melhor a matéria e a elaboração de roteiros, aprendi algo muito mais profundo. Aprendi que para tudo, há vários caminhos a trilhar. Nada é fadado ao fracasso eterno. Sempre há vários ângulos a serem analisados, situações a serem escolhidas. O olho humano é capaz de captar várias opções quando está aliado a nossa mente e ao nosso conhecimento.

Então, larguei tudo o que estava fazendo e joguei para o alto. Literalmente. Nada daquilo valia a pena. Minha vida valia a pena. Ou melhor, vivê-la, intensamente.

 
 

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